A inovação segue um ciclo contínuo de reinvenção. No setor de meios de pagamento, a digitalização e novas tecnologias desafiaram modelos tradicionais, transformando a forma como consumidores e empresas interagem com o dinheiro. Agora, um movimento semelhante acontece com a Inteligência Artificial (IA): empresas estabelecidas que lideraram a primeira onda da IA generativa veem seu espaço ser desafiado por novas startups que estão redefinindo os padrões do setor. Temos um exemplo recente de uma startup chinesa de IA que chamou atenção ao desenvolver modelos avançados e altamente eficientes, mostrando que a inovação não pertence apenas aos gigantes da tecnologia, mas às mentes que ousam repensar o que já existe.
Esse dinamismo e capacidade de disrupção são marcas da China, um dos mercados mais avançados em inovação. Fiz uma visita ao país no final do ano passado, a convite de uma plataforma dedicada ao desenvolvimento e à formação de executivos, e pude ver de perto como a IA, as cidades hiperconectadas e a automação inteligente estão profundamente integradas ao cotidiano. Mais do que os avanços tecnológicos em si, o que realmente me impressionou foi a forma como a inovação está atrelada ao impacto social e como as empresas desempenham um papel fundamental nesse processo transformador.
O setor de meios de pagamento é pulsante. As mudanças cada vez mais rápidas e frequentes no comportamento do consumidor gera a necessidade de inovação constante para oferecer a melhor experiência, aliando conveniência e segurança. No Brasil, onde a indústria é uma das mais maduras do mundo, esse ecossistema reflete a diversidade do mercado, com hábitos de consumo únicos, oportunidades de melhorar a experiência do usuário e avanços em soluções cada vez mais diversificadas e personalizadas.
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Sim, o Brasil é referência e exporta diversas inovações em soluções de pagamento. Ainda assim, é essencial olhar além do mercado local. Tecnologias emergentes e modelos inovadores de outros países oferecem lições valiosas para otimizar operações, ampliar o alcance e melhorar a experiência de consumidores em um mundo cada vez mais interconectado.
A China, com mais de 1,4 bilhão de habitantes e mais de 600 milhões de pessoas economicamente ativas, tem um papel central na economia global, sendo o maior parceiro comercial de cerca de 130 nações, incluindo o Brasil. É nítido notar que esse protagonismo não se deve apenas à escala, mas de uma abordagem estratégica que alia inovação, planejamento de longo prazo e uma mentalidade de colaboração com o resto do mundo.
Um ponto que me chamou a atenção foi a predominância do mandarim no consumo de conteúdos digitais. Com mais de 95% da população não fluente em inglês, a demanda por plataformas e serviços internacionais é naturalmente reduzida. Isso impulsionou o desenvolvimento de soluções locais altamente sofisticadas, que não apenas atendem às necessidades específicas dos consumidores locais, mas, muitas vezes, oferecem inovações que superam as alternativas ocidentais. Serviços de streaming, redes sociais e plataformas de e-commerce são amplamente dominados por empresas chinesas, criando um ecossistema digital robusto e independente. Para estrangeiros, o acesso a conteúdos externos é possível com ferramentas específicas, desde que respeitem as normas locais.
Desde 1953, a China tem moldado seu crescimento por meio de planos de desenvolvimento quinquenais, com o plano vigente (2021-2025) focado em transformar o país em uma potência tecnológica e industrial autossuficiente. O país dá especial atenção à digitalização econômica e social, além de promover o desenvolvimento sustentável com foco em baixo carbono. Esses objetivos são sustentados por incentivos ao investimento privado, parcerias internacionais e medidas que atraem talentos estrangeiros.
No setor de meios de pagamento, soluções locais têm se destacado pela eficiência e simplicidade. O uso de tecnologias como biometria facial e QR Codes para facilitar transações demonstra como a inovação pode melhorar significativamente a experiência do consumidor. Enquanto a China já consolidou modelos avançados de pagamento digital, o Brasil avança rapidamente nesse caminho, com soluções como o PIX e o pagamento por aproximação ganhando adesão em ritmo acelerado. A lição do mercado chinês é clara: a inovação no varejo deve sempre priorizar a acessibilidade e a melhoria contínua da usabilidade.
Outro destaque da China é a popularização do live streaming como um canal de vendas. A combinação de influenciadores com tecnologia cria uma dinâmica única, impulsionando transações significativas. A tendência já tem aparecido no varejo brasileiro, mas de forma tímida. Na China, essa modalidade já é uma peça fundamental da estratégia das empresas.
O uso de IA, por sua vez, vai além da ferramenta — ela é parte central da transformação, permitindo personalização de serviços e otimização de processos em tempo real, algo que pode ser explorado ainda mais no Brasil para otimizar os meios de pagamento e melhorar o acesso dos consumidores.
Entretanto, com toda a inovação tecnológica, surgem também desafios. A automação e o uso crescente de IA demandam mais debates sobre inclusão e impacto social. Na China, há iniciativas voltadas à redistribuição dos benefícios da tecnologia, como tributar setores altamente automatizados para financiar políticas sociais, que reforçam a importância de equilibrar inovação com responsabilidade. Para o Brasil, esse aprendizado pode inspirar soluções que, além de fortalecerem pequenas e médias empresas, possam ampliar a inclusão financeira das populações mais vulneráveis, sem perder de vista a eficiência e a competitividade.
A experiência chinesa reforça que inovação e impacto social devem caminhar juntos. Para o Brasil, adaptar essas lições pode ser um caminho para acelerar sua transformação econômica e social, garantindo que a tecnologia esteja sempre a serviço das pessoas.
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