A pressão por inovação acelerada, o avanço da inteligência artificial e os riscos de apostar em soluções que não geram valor foram temas centrais do painel realizado durante o IT Forum Trancoso 2025, que reuniu líderes de tecnologia de quatro grandes empresas com atuação global.
Participaram do debate Leandro Balbinot, CTO da Whole Foods; Cassiano Ebert, CIO global da Petrobras; Alessandro Tomazela, CIO da Braskem; e William Potenti, CIO da L’Oréal Brasil. A mediação foi feita por Vânia Neves, conselheira de empresas e fundadora da LÍDERNEGRA.
Ao longo da conversa, os executivos discutiram a necessidade de alinhar inovação à estratégia do negócio, relataram aprendizados obtidos com falhas e defenderam uma liderança menos hierárquica, com foco na experimentação, no pragmatismo e na escuta ativa.
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Falhar rápido, ajustar mais rápido
Leandro Balbinot, CTO da Whole Foods, afirmou que a inovação, mesmo em grandes empresas, está sujeita à alta taxa de erro. Segundo ele, cerca de 70% dos projetos testados não chegam à fase de escala. Para lidar com isso, a empresa adotou uma abordagem baseada em experimentação rápida e decisões reversíveis.
Ele explicou que decisões que podem ser desfeitas devem ser tomadas pelos times, e não por instâncias superiores, o que ajuda a manter a agilidade. A empresa chama isso de “porta de duas vias”. “Se pode voltar atrás, descentraliza. Se não pode, o líder deve intervir.”
Balbinot também relatou casos em que soluções tecnológicas foram abandonadas por não atenderem às expectativas do consumidor, como um projeto de hipermercado 100% automatizado que foi descontinuado após feedback negativo dos clientes.
Inteligência artificial com governança e propósito
Na Petrobras, o uso da inteligência artificial já não se restringe à experimentação. Cassiano Ebert, CIO global da estatal, disse que a empresa aplica IA em áreas como previsão de falhas, tributação e detecção de manchas de óleo no mar, além de utilizar sistemas de visão computacional para controlar automaticamente a queima de gases nas refinarias. O sistema, chamado Smart Tocha, já evitou a emissão de 6 mil toneladas de CO₂ por ano.
Ebert afirmou que a estatal conta com cerca de 9 mil colaboradores utilizando plataformas de desenvolvimento simplificado para criar soluções com IA, mas ressaltou a importância de programas de governança para evitar violações de privacidade e uso inadequado dos dados.
Segundo ele, a empresa também está comprometida com o que chamou de “transição energética justa”, que leva em conta o impacto ambiental, social e econômico dos projetos. “Tem que ser bom para a Petrobras, para o entorno e para o planeta”, disse.
Inovação industrial exige rigor técnico
Alessandro Tomazela, CIO da Braskem, ressaltou que, no setor químico, erros operacionais podem ter consequências graves. Para mitigar riscos, a empresa adotou réplicas digitais de suas plantas industriais, chamadas digital twins, para testar novas tecnologias antes da implementação real. Unidades em Duque de Caxias (RJ), no ABC paulista foram modeladas digitalmente e passaram a funcionar como ambientes de simulação.
A estratégia pode permitir, por exemplo, a redução do tempo de parada para manutenção de 45 para 28 dias, após testes realizados em simulações. Tomazela destacou que, com poder computacional mais acessível, tornou-se possível processar dados de plantas inteiras em ambientes virtuais.
“A gente testa primeiro tudo no digital. Temos mais histórias de erro do que de acerto, mas agora o erro é controlado.”
Entre o global e o local, a experiência do consumidor
William Potenti, CIO da L’Oréal Brasil, enfatizou a necessidade de equilibrar padrões globais e especificidades regionais. O executivo contou que a subsidiária brasileira liderou testes de integração do WhatsApp com o e-commerce da empresa, considerando que o aplicativo tem a segunda maior penetração do mundo no Brasil, atrás apenas da Índia.
Segundo ele, a L’Oréal tenta evitar a supervalorização de tecnologias apenas por serem novas. “É preciso distinguir o que é solução para um problema real e o que é só palavra sexy do momento”, disse.
Potenti relatou experiências frustradas com investimentos que prometeram mais do que entregaram. “Tecnologia que não gera valor vira frustração”, afirma. Em contrapartida, quando o foco é o problema e o time de negócio está envolvido, a empresa consegue criar soluções de impacto com menor custo e em menos tempo.
Liderança e cultura digital
Na parte final do painel, os quatro executivos foram convidados a comentar o papel da liderança no contexto de transformações tecnológicas aceleradas. Todos defenderam a descentralização como condição para inovação consistente.
Potenti afirmou que o líder precisa criar um ambiente de vulnerabilidade e escuta ativa, com construção coletiva. “Hoje o conhecimento nasce de baixo para cima. O papel do líder é orquestrar, não mais comandar tudo.”
Balbinot reforçou que metas de retorno financeiro não fazem sentido em experimentos inovadores. “Não se pode exigir que um teste gere aumento de 20% em vendas. O erro faz parte.”
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