Imagine olhar para um espelho e, em vez de ver seu reflexo, enxergar todo o potencial (e os riscos) de uma sociedade movida à inteligência artificial (IA). Essa foi a metáfora usada por Reggie Townsend, vice-presidente da Prática de Ética de Dados do SAS, para abrir o segundo dia do SAS Innovate 2025*, em Orlando, nos Estados Unidos. “A IA é como um espelho moderno. Ela reflete nossas escolhas, valores e vieses. Se o reflexo está distorcido, o problema não é técnico, é humano”, afirma.
A conversa teve como foco construir um ecossistema de IA confiável, responsável e estratégico, especialmente em áreas críticas como saúde, finanças e meio ambiente.
Gavin Day, COO do SAS, ressaltou a importância da computação de alto desempenho e do papel emergente da computação quântica como catalisadores de avanços científicos. “A IA hoje é como um emulador. Ela nos ajuda a reduzir o espaço de busca para novas descobertas. Mas, combinada à computação quântica, poderá revolucionar áreas como química computacional e biologia, permitindo simular a natureza com precisão inédita”, diz.
A jornada do SAS com a computação quântica já soma 25 anos, mas os últimos avanços, como a descoberta recente de partículas de Borah, acenderam o alerta. Chegou a hora de a computação quântica sair dos laboratórios e transformar a pesquisa em impacto.
Governança como vantagem competitiva
A principal mensagem da abertura do segundo dia do evento, no entanto, foi que sem confiança, não há decisão certa. Portanto, não há vantagem competitiva. “Não é o dado que move sua empresa, são as decisões que você toma com ele”, destaca Day.
Segundo dados apresentados por Townsend, 42% das empresas que já adotaram estruturas robustas de governança de IA relatam ganhos operacionais, enquanto 34% observam aumento da confiança dos clientes. “Os líderes de hoje não querem apenas cumprir regulações. Eles querem ser bons administradores, e a responsabilidade virou um imperativo moral e de mercado”, afirma.
Emirados Árabes e Europa na vanguarda
A presença de líderes internacionais reforçou como a IA ética está transformando realidades. Sua Excelência Mubaraka Ibrahim, CEO do Emirates Health Services, compartilhou os avanços do sistema de saúde federal dos Emirados Árabes Unidos, que já implementou mais de 40 modelos de IA, de predições de mortalidade em UTIs durante a COVID-19 a sistemas de farmácia robótica e cirurgia assistida por IA.
“Colocamos o paciente no centro de toda inovação. Usamos a IA para elevar os resultados clínicos, reduzir o burnout dos profissionais e melhorar a eficiência financeira”, afirma ela, destacando a importância de combinar estratégia nacional, infraestrutura e capacitação de lideranças. Hoje, o país tem 22 Chief AI Officers nomeados pelo governo.
Na Europa, o Erasmus Medical Center e a TU Delft, com apoio do SAS, lançou o Responsible and Ethical AI in Healthcare Lab (REAL), voltado à aplicação ética da IA na medicina. “Trabalho em terapia intensiva. Só uso IA quando tenho confiança de que ela é segura, explicável e justa. Decisões nesse campo podem significar vida ou morte”, destaca Michel van der Meulen, médico internista e intensivista do Erasmus.
Vem aí
O SAS anunciou que está preparando uma nova solução de governança de IA, holística, capaz de orquestrar, monitorar e auditar modelos, agentes e sistemas. A prévia está prevista para este ano, e a empresa já oferece, gratuitamente para clientes, orientação personalizada com seu time de advisory.
No encerramento, Townsend provocou. “Será que os algoritmos dos próximos cem anos devem ser guiados pelas normas dos últimos cem? Se queremos que a IA reflita nossos melhores valores, precisamos agir agora. Este é o nosso ‘momento all in’.”
*A jornalista viajou a convite do SAS