Skip to main content
Bolhas sociais são o efeito colateral dos algoritmos
Bolhas sociais são o efeito colateral dos algoritmos | Foto: Canva

*Por Murilo Borrelli, CEO da ROI Mine

Vivemos em um mundo mediado por algoritmos. Eles estão em nossas redes sociais, plataformas de streaming, sites de busca e marketplaces. Formados por conjuntos de regras e instruções programadas, eles nos ajudam a encontrar as músicas que amamos, sugerem filmes com base em nossas preferências, otimizam campanhas de marketing com alto desempenho e tornam nossa navegação mais fluida e conveniente.

No universo digital, os algoritmos processam dados, aprendem com nossos comportamentos e entregam conteúdo que supostamente desejamos consumir. De fato, eles são essenciais para lidar com o excesso de informação – filtrando, priorizando e organizando o conteúdo de forma quase mágica. Do ponto de vista empresarial, são a chave para decisões orientadas por dados e eficiência em escala. Enfim, temos que admitir seus inúmeros benefícios.

Mas o que acontece quando o filtro vira prisão?

O problema começa quando esses mesmos algoritmos, com base em comportamentos passados, passam a prever e reforçar padrões de consumo e pensamento. Aqui nascem as chamadas bolhas sociais: ambientes digitais em que o usuário só é exposto a ideias, opiniões, produtos e conteúdos alinhados com seus próprios gostos e crenças.

Na prática, isso significa que uma pessoa que consome apenas notícias de uma vertente política, tende a receber cada vez mais daquele mesmo tipo de conteúdo – não por escolha consciente, mas por curadoria automatizada. O algoritmo entende que “isso te interessa” e deixa de mostrar visões contrárias. Como resultado temos um efeito questionável e preocupante, onde o contraditório é silenciado, e a pluralidade, sufocada.

Casos reais e consequências perigosas

As bolhas sociais não são teoria conspiratória, são fenômenos reais e já demonstrados. O documentário O Dilema das Redes, disponível na Netflix, é um exemplo claro de como a radicalização de discursos se intensifica quando os algoritmos priorizam engajamento a qualquer custo e como as redes sociais podem ter um impacto devastador sobre a democracia e a humanidade.

Tal lógica também é válida para teorias da conspiração, polarizações extremas e movimentos de negação da ciência. A bolha, quando não monitorada, isola, radicaliza e pode colocar vidas em risco. Não que o algoritmo seja necessariamente o vilão. O problema não está nele em si, mas em como ele é desenhado, calibrado e utilizado. A tecnologia não é neutra, e o uso ético dos dados deve ser discutido com seriedade.

O que precisamos, na verdade, é desenvolver a alfabetização algorítmica como cidadãos, profissionais e empresas. Devemos entender como funcionam esses sistemas, questionar seus resultados e, acima de tudo, expor-nos intencionalmente à diversidade de ideias, conteúdos e pessoas.

O papel da responsabilidade digital

Essa é uma responsabilidade compartilhada e compete às plataformas a missão de promover mais transparência em seus critérios de curadoria. Da mesma maneira que os governos precisam regulamentar o uso de dados, com foco na segurança e no bem-estar coletivo. Quanto às empresas, essas devem adotar práticas data-driven com ética, respeitando a privacidade e evitando manipulação. E nós, usuários, temos o dever de cultivar o pensamento crítico e buscar o contraditório, mesmo que o algoritmo não nos mostre.

Com o avanço da inteligência artificial, os algoritmos se tornarão ainda mais sofisticados, capazes de prever comportamentos com alta precisão. Isso pode parecer assustador, mas também representa uma oportunidade. Se usarmos essa evolução para ampliar horizontes, promover inclusão e aprofundar a experiência humana, o futuro será promissor.

A boa notícia é que a tecnologia, quando guiada por propósito e responsabilidade, pode nos levar a um novo patamar de consciência digital. A ditadura do algoritmo só se sustenta quando abrimos mão da nossa liberdade de escolha. O antídoto para as bolhas sociais é simples, mas poderoso: curiosidade, empatia e coragem para navegar além do óbvio. Sim, o algoritmo sobreviverá à inteligência artificial. Mas é nossa humanidade que precisa sobreviver a ele.

O post A ditadura do algoritmo e o perigo das bolhas sociais: um chamado à responsabilidade digital apareceu primeiro em Startups.