
O venture capital é feito de fases – que muitos chamam de safras. E, como em toda safra, é importante saber o momento de plantar e de colher, entendendo que algumas darão bons frutos, outras não. Um dos principais desafios enfrentados pelo mercado atualmente é com as captações, impactadas por um momento pouco favorável de juros altos e instabilidade global. Ainda assim, o cenário pode ser promissor para quem investe, afirma Daniel Ibri, co-founder e managing partner da Mindset Ventures.
“O momento para captar é inverso ao momento para investir. Agora, o mercado está em um momento de baixa em termos de captação. Por outro lado, para investir está excelente. Há menos oferta de capital e, consequentemente, condições melhores de investimento, com valuations mais razoáveis, condições de entrada muito melhores”, explica o investidor, em entrevista exclusiva ao Startups.
Fundada em 2016, a Mindset Ventures se especializou em investimentos de venture capital nos Estados Unidos e em Israel, com foco em early-stage. Na virada do ano, a casa concluiu a captação do seu quarto fundo. Apesar de não divulgar o valor para este veículo, Daniel conta que foi próximo do último fundo, de US$ 50 milhões.
Embora seja um fundo global, a maior parte dos LPs (Limited Partners) da Mindset Ventures é de brasileiros, que buscam no veículo uma oportunidade de diversificar seu portfólio, com exposição a mercados mais maduros.
“Tem LPs mais qualificados que entendem que venture capital é um negócio de longo prazo e estão sendo mais agressivos. Se você investe em uma safra só, se dá muito mal. Tem que estar investindo sempre. E aí, ao longo de cinco, seis, sete safras, o saldo é positivo. Muitos LPs investem em VCs brasileiros que investem no Brasil, o que é ótimo, mas diversificação é importante. Às vezes, é melhor diversificar com cheques menores do que botar todos os ovos na mesma cesta”, avalia Daniel.
Como parte da sua estratégia nesses mercados, bastante competitivos, a Mindset costuma entrar como co-investidora, unindo forças com fundos locais de Israel e do Silicon Valley. Os cheques da gestora costumam ficar, em média, entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões, com possibilidade de follow-ons.
O quarto fundo da casa já investiu em cinco empresas e quer chegar a 10 ou 12, no total, até o ano que vem. A preferência é pelos setores de Software-as-a-Service (SaaS), fintechs, cibersegurança e saúde.
“Temos sido um player relevante nesse ecossistema, com uma boa reputação, mas estamos competindo com caras muito grandes, que estão fazendo isso há cem anos, literalmente. Não estamos lá para brigar por espaço, mas para colaborar. Sempre tem alguém com a gente validando a tese, liderando a rodada, e a gente completa trazendo um ponto de vista diferente, e às vezes trabalhando mais próximo dos founders do que um fundo grande que tem mais empresas no portfólio. A gente acaba colocando mais a mão na massa”, aponta o investidor.
Ao todo, a Mindset tem hoje cerca de US$ 120 milhões sob gestão, com 75 investidas desde o início da sua trajetória e 12 exits. “Estamos para anunciar o nosso quarto unicórnio”, comemora o fundador da gestora.
“Israel é cibersegurança, EUA é IA”
Com tese voltada para os mercados dos Estados Unidos e Israel, a Mindset Ventures tem acompanhado de perto os efeitos nos conflitos nos negócios. Mas, ao contrário do que muitos podem pensar, Daniel afirma que, até o momento, os impactos da guerra nas investidas do grupo têm sido positivos.
“Lógico que é horrível estar em um ambiente de guerra, mas para o ecossistema de tech não teve prejuízo, inclusive deu um impulso muito grande para a economia de Israel, e compensou um pouco a queda do turismo”, aponta.
O destaque é para o segmento de cibersegurança, que já era forte no país, e agora ganhou ainda mais tração.
“Boa parte do dealflow em Israel hoje é de cibersegurança. Nos Estados Unidos, é IA. Olhamos para inteligência artificial não pelo hype, mas porque é o novo paradigma, mas é preciso saber separar o joio do trigo. Acreditamos no valor, mas tem muita fumaça”, afirma o gestor.
O post Mindset Ventures: momento para investir não é o momento de captar apareceu primeiro em Startups.