A Microsoft divulga nesta quarta-feira (28) suas projeções de receita para o serviço de computação em nuvem Azure, colocando em evidência a principal fonte de lucros da companhia. Segundo informações da Reuters, há meses, a gigante do software vem ressaltando sinais de recuperação na unidade de nuvem, impulsionados por altas somas aplicadas em projetos de inteligência artificial (IA). Contudo, em meio às incertezas crescentes sobre a capacidade de rentabilizar essas tecnologias, analistas e investidores observam a movimentação com cautela.
A empresa se posicionou na vanguarda da corrida de IA no setor de Big Tech após ser uma das primeiras apoiadoras da OpenAI, desenvolvedora do ChatGPT. Ainda assim, pairam dúvidas a respeito do retorno esperado em face dos cerca de US$ 80 bilhões que a Microsoft planeja destinar, ao longo deste ano fiscal, a despesas de capital — incluindo data centers, chips especializados e outros itens necessários para suportar a demanda de IA.
Leia também: Brasil fica no top 10 de alunos matriculados em cursos de IA generativa na Coursera
Desaceleração do crescimento da Azure e o impacto da IA
Apesar do entusiasmo, o ritmo de expansão da Azure vem desacelerando por dois trimestres consecutivos. A Microsoft já havia declarado que a aguardada retomada se tornaria mais evidente somente a partir do terceiro trimestre. Segundo estimativas de analistas ouvidos pela Visible Alpha, o Azure deve reportar um avanço de 31,8% em seu segundo trimestre fiscal, ligeiramente abaixo dos 33% apurados nos três meses anteriores.
O negócio em nuvem da Microsoft passa por pressões concorrenciais significativas. Nesta semana, o mercado reagiu fortemente ao lançamento de um modelo de IA de baixo custo pela chinesa DeepSeek, que alega conseguir resultados com menor volume de dados e chips menos avançados, provocando temores de que a liderança dos EUA no setor possa ser erodida.
As ações da Microsoft foram impactadas pela onda de vendas na segunda-feira (27), quando a tecnologia em geral sofreu um tombo global — e a Nvidia, fornecedora de chips de IA, perdeu cerca de US$ 593 bilhões em valor de mercado em um único dia.
Em paralelo, a Microsoft também deve encarar o efeito adverso do dólar forte em seus ganhos internacionais. Dados do índice DXY apontam que a moeda norte-americana se valorizou cerca de 8% nos últimos três meses de 2024, o que tende a reduzir a receita reportada quando convertida para dólares.
Principais expectativas para Azure e outros segmentos
Se, por um lado, o mercado teme uma desaceleração prolongada, por outro, a Microsoft vem destacando o aumento da contribuição da IA em seus resultados. Parte desse impulso está relacionada à própria OpenAI.
Mesmo com a recente notícia de que a OpenAI estreitou parcerias para construção de novos data centers com a Oracle, a Microsoft mantém a primazia sobre a maior parte da infraestrutura que processa tanto o uso comercial quanto o desenvolvimento de APIs pelos clientes da startup de Sam Altman. Isso significa que, à medida que a OpenAI expande seus serviços, a conta de hospedagem via Azure tende a crescer.
O segmento Intelligent Cloud, que engloba a Azure, deve reportar alta de 19,7% na receita do segundo trimestre, de acordo com estimativas de mercado. Já as projeções de Wall Street apontam que a Azure pode acelerar seu crescimento para cerca de 33% no terceiro trimestre, caso as grandes apostas em IA comecem a gerar resultados mais concretos.
Além do Azure, outro ponto de atenção é a produtividade: a Microsoft segue confiando na integração de IA ao seu ecossistema de aplicativos de escritório, como o Office 365. Em especial, a empresa lançou produtos como o Microsoft 365 Copilot, um assistente de IA cujo sucesso de adoção tem gerado questionamentos.
Pesquisas independentes, incluindo um levantamento da Gartner em 2024, sugerem que a demanda corporativa por soluções de IA ainda se concentra em projetos-piloto. Para expandir o uso, a Microsoft tem experimentado diferentes estruturas de preços, oferecendo, por exemplo, planos que adicionam recursos de IA por um custo extra de US$ 3 mensais para assinaturas familiares ou individuais, enquanto usuários corporativos pagam US$ 30 ao mês por funcionário.
Apesar das preocupações, há analistas que veem um potencial gigantesco de receita adicional nos próximos cinco anos, se o Copilot for adotado por pelo menos 10% dos assinantes do Microsoft 365. Nesse cenário, a empresa poderia agregar mais de US$ 10 bilhões em vendas.
Desafios de monetização e mudança no relatório de resultados
Uma das principais dúvidas envolve a capacidade de monetizar efetivamente a IA. O “hype” em torno das ferramentas de inteligência artificial gerativa, como chatbots e modelos de linguagem, alimentou um fluxo maciço de capital para as ações de empresas de tecnologia. Enquanto alguns temem uma eventual “bolha”, outros acreditam que projetos robustos como o da Microsoft podem, de fato, transformar diversas indústrias — de atendimento ao cliente a análise de dados empresariais.
Para complicar, a Microsoft alterou a forma como apresenta seus segmentos de negócio em agosto, alinhando melhor a estrutura de relatório com sua gestão operacional interna. Embora a mudança torne mais transparente a contribuição de algumas divisões voltadas a IA, analistas têm enfrentado dificuldades para comparar resultados trimestrais anteriores de maneira homogênea.
No lado do consumo, o braço “More Personal Computing” (que reúne Windows e Xbox) deve encolher 2,6% em receita, refletindo desafios no mercado de PCs e a saturação do setor de videogames após o boom durante a pandemia. Enquanto isso, produtos vinculados a Office, LinkedIn e Copilot entram na unidade “Productivity and Business Processes”, que, segundo previsões, crescerá 11,8% no segundo trimestre.
Perspectivas
Embora a Microsoft tenha sido pioneira em apostar na OpenAI, a evolução de competidores chineses como a DeepSeek joga luz sobre a disputa geopolítica no setor de IA. A capacidade de desenvolver e implantar grandes modelos de linguagem e ferramentas avançadas dependerá não apenas de chips de última geração, mas também de um ecossistema de parcerias, regulações e estratégias de monetização eficientes.
No curto prazo, o mercado aguarda o balanço trimestral e as projeções de crescimento para tirar conclusões sobre o caminho que a Microsoft trilhará diante de uma concorrência global crescente — e cada vez mais barata.
Siga o IT Forum no LinkedIn e fique por dentro de todas as notícias!