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Bem além do chatbot: startups usam WhatsApp como base de soluções

By 3 de fevereiro de 2025No Comments
WhatsApp se tornou plataforma principal para startups
WhatsApp se tornou plataforma principal para startups.

Segundo dados divulgados pela Statista em 2023, mais de 147 milhões de brasileiros utilizam o WhatsApp. 96% deste público abre o app todos os dias. Hoje em dia, toda marca que se preze tem um perfil no Whats para se relacionar com seus clientes. Entretanto, uma nova onda começou a aparecer – a de startups que passaram a usar o app da Meta como plataforma-base para suas soluções.

É o caso de startups como a fintech Magie, a assistente pessoal Alfredo e Jota. As três viram na plataforma da Meta um caminho para entregar um produto diferenciado, assim como abrir uma porta para um canal que é parte indispensável do dia a dia dos brasileiros.

“Quando se cria um aplicativo ou plataforma, há sempre o desafio de levar o consumidor até lá. O que essas startups enxergaram foi um hábito já arraigado: o de abrir o WhatsApp constantemente. Ao invés de criar algo do zero e correr atrás da aquisição de clientes, elas decidiram utilizar a plataforma como base para suas soluções”, explica Guilherme Horn, Head do WhatsApp no Brasil.

Segundo Luiz Ramalho, cofundador e CEO da fintech Magie, a escolha pelo WhatsApp foi estratégica para estabelecer marca e adquirir clientes rápido. Para a startup, lançada há menos de um ano, a escolha tem rendido frutos: a startup ultrapassou a marca de 25 mil clientes e transacionou mais de R$ 350 milhões com seu “WhatsApp banking”, que emprega inteligência artificial para entregar serviços financeiros via comandos conversacionais dentro do app.

“No nosso caso, primeiro identificamos qual seria a melhor experiência para o cliente e, a partir disso, construímos a solução de trás para frente. No começo, precisávamos escolher nossa batalha, e focamos no WhatsApp como canal principal”, explica Luiz.

Outra startup que encontrou no WhatsApp a plataforma ideal para crescer foi a Alfredo, fundada pela gaúcha Fernanda Weiden, ex-CTO da VTEX e que também atuou em empresas como Google e a própria Meta. O aplicativo automatiza tarefas do dia a dia por meio de lembretes e prompts dentro do app de mensagens, funcionando como um assistente executivo.

“Desde o nosso período de testes, percebemos que os usuários não queriam ir para um aplicativo separado. Eles queriam que tudo acontecesse dentro do WhatsApp. Esse é o grande diferencial de trabalhar com os superapps: inserir nossos serviços diretamente na rotina das pessoas”, explica Fernanda.

Fernanda Weiden, fundadora e CEO da Alfredo
Fernanda Weiden, fundadora e CEO da Alfredo. Foto: divulgação;

Também jovem (menos de um ano de atuação), a Alfredo terminou 2024 acima da meta de contratos esperados, mas agora está se preparando para dar os próximos passos. “Estamos no processo de discovery das camadas de tecnologia que serão os principais produtos dentro da plataforma”, explica Fernanda.

Uma plataforma mais amigável

Para trazer startups e seus modelos de negócio para dentro do WhatsApp, algo que vai além de meros chatbots de atendimento, a Meta também teve que mexer seus pauzinhos. Segundo Guilherme, o lançamento da Cloud API, em 2023, foi um divisor de águas para esse mercado, facilitando a criação de novas soluções e permitindo que as empresas escalassem seus negócios sem depender de um canal próprio.

“Desde o lançamento da Cloud API, vimos uma evolução muito grande. O crescimento dessas startups não está limitado pelo canal, mas sim pela estratégia por trás da experiência do usuário e do modelo de negócios. Muitas empresas que começaram testando suas soluções dentro do WhatsApp acabaram transformando esse canal no core do negócio”, pontua.

Para Luiz Ramalho, atualmente a Magie está “100% comprada” no WhatsApp. “A nossa aposta é que focando nesse canal primeiro é um diferencial muito maior. Também nos deu segurança o apoio da Meta, que vê o app como plataforma e nos dá confiança para atuar e melhorar a solução”, pontua.

Por falar na empresa de Mark Zuckerberg, a operação brasileira da Meta se tornou protagonista global da empresa quando o assunto é inovação no WhatsApp. “Tem muita coisa no roadmap, tá o tempo todo testando, e à medida que estes testes vão sendo bem sucedidos, vai para o beta, e depois para a produção. É algo que vem muito da demanda dos usuários, e isso vale tanto das PFs quanto das PJs”, explica Guilherme Horn.

Guilherme Horn, head do WhatsApp no Brasil. Foto: divulgação.

No caso específico das startups, Guilherme revela que a Meta tem planos de aumentar o apoio a novos negócios dentro do Whats. “O Brasil está liderando em criatividade e inovação no aplicativo. Estamos avaliando a possibilidade de, a partir de 2025, ajudar esse ecossistema a crescer ainda mais, tipo um hub para fomentar essas ideias”, completa.

WhatsApp-dependência?

Na tarde do dia 11 de dezembro, o WhatsApp passou por instabilidades e ficou fora do ar para diversos usuários durante quatro horas. Para a Magie, isso significou que seu serviço ficou 100% indisponível para os usuários, já que a companhia não tem outros canais por onde oferece seus serviços.

Daí vem a pergunta: ao ser totalmente dependente de uma única plataforma, isso pode ser um problema para o negócio? Para Fernanda, da Alfredo, falhas no sistema fazem parte do jogo, e não é algo muito diferente de startups que são dependente de players de nuvem para manter suas aplicações ou sites no ar.

Entretanto, diferentemente dos apps, que podem recorrer a redundâncias na nuvem para contornar esses problemas, uma queda no WhatsApp significa ficar totalmente off. “No nosso caso, se tu tá comprometido 100% com o Whats, não tem outro jeito. Quando tem uma instabilidade, é muito mais sentido. Mas essa é uma aposta calculada: a experiência que conseguimos oferecer compensa os riscos”, explica Fernanda.

Apesar de estar totalmente focada no WhatsApp no momento, a Magie tem planos de não ficar só na plataforma da Meta. Luiz reconhece que depender exclusivamente de uma plataforma pode ser um risco e, por isso, já trabalha na criação de canais alternativos.

“O WhatsApp continuará sendo o nosso canal principal, mas estamos estudando a possibilidade de criar outros canais para atendê-los no caso de uma instabilidade no Whats. Todo sistema falha, então é importante termos opções para garantir que nossos clientes não fiquem sem serviço”, pontua.

Investidores e competição

O Brasil está na linha de frente quando o assunto são negócios dentro do WhatsApp, mas a nova tendência não é coisa exclusiva daqui. Inclusive, investidores gringos estão de olho nesse movimento. Sasha Kaletski, sócio da Creator Ventures (investidora gringa em empresas como Beehiiv) acredita que o WhatsApp representa uma das maiores mudanças de plataforma da atualidade.

“Investimos cedo em duas empresas que construíram soluções no WhatsApp. Ambas estão crescendo muito rápido. Uma delas ultrapassou recentemente US$ 1 milhão em receita anual recorrente (ARR), e a outra já passou dos US$ 10 milhões. Estamos dobrando nossa aposta nessa tendência, pois acreditamos que há um grande potencial de crescimento nesse mercado”, disse o investidor em um post em seu LinkedIn no ano passado.

O aporte mais recente em startup nativa no WhatsApp foi o da Jota, que concluiu uma rodada seed de US$ 8,9 milhões, liderada pela MAYA Capital. A startup opera como um assistente financeiro e conta digital dentro do WhatsApp, oferecendo serviços como Pix e pagamento de boletos para PMEs.

Se hoje temos mais mais fintechs do tipo recebendo aportes, Luiz lembra que vender a ideia da Magie para investidores não foi algo fácil no começo. “Antes de lançar a empresa, estávamos falando com o mercado e nos diziam que não seria uma boa, que o WhatsApp não era seguro para ser um canal transacional”, destaca.

Luiz Ramalho, CEO e fundador da Magie (Foto: divulgação)
Luiz Ramalho, CEO e fundador da Magie. Foto: divulgação

Não demorou muito para a Magie ganhar tração, e os investimentos vieram. Menos de seis meses depois de chegar no mercado, a fintech conseguiu uma rodada maior: levantou R$ 22 milhões com o fundo gringo Lux Capital, valor que se somou aos R$ 6 milhões que a Canary (fundo onde Luiz é sócio) investiu para ajudar a startup a sair do papel.

“Quando a gente começou a ganhar tração, vieram diversos investidores interessados e até os bancos começaram a copiar nosso modelo de serviço”, cutuca Luiz, fazendo menção a bancos como o Itaú, que meses depois do lançamento da Magie também criaram serviços de banking dentro do Whats.

Perguntado sobre como os “bancões” podem ser empecilhos para a Magie, Luiz diz não estar preocupado. “Recentemente lançamos nosso produto de open banking, unificando todas as contas do usuário dentro de nossa interface, e registramos um de nossos maiores picos de uso no ano”, afirma.

Para Guilherme, o “pulo do gato” para as startups está na experiência, e nisso elas podem tranquilamente competir com os players maiores, que tem diversas outras coisas para cuidar. “Eles não estão brigando com outros bancos e sim oferecendo uma camada de experiência por cima disso tudo”, avalia, ao dar sua opinião sobre a Magie.

Fernanda reforça o coro de Guilherme, frisando que ainda tem muito espaço para construir dentro do WhatsApp. “O que atrai os usuários é ideia de uma experiência diferente que eles não viram ainda”, finaliza.

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