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Inovação precisa de diversidade, alerta Grazi Mendes, da ThoughtWorks

By 21 de fevereiro de 2025No Comments

Fotografia de Grazi Mendes, head de Diversidade, Equidade e Inclusão da ThoughtWorks. Ela aparece em um retrato expressivo, com a cabeça raspada, usando argolas grandes e um look brilhante em tons metálicos. Seu olhar é confiante e sereno, com um leve sorriso, enquanto apoia uma das mãos na cabeça. O fundo é escuro, destacando sua presença e estilo sofisticado.

Nos últimos dias, uma mudança aparentemente simples no Google Agenda reverberou como um alerta para o futuro da inovação. Usuários atentos notaram a retirada de datas comemorativas do sistema do Google – como o Mês dos Povos Indígenas, Mês da História Negra, o Mês da História das Mulheres, o Mês do Orgulho LGBTQ+ e o Dia da Memória do Holocausto –, marcando o fim de uma era de celebração da diversidade na plataforma.

A decisão, anunciada por um porta-voz do Google e atribuída a ajustes administrativos de meados de 2024, vai além de uma mera atualização técnica: levanta questionamentos sobre o compromisso com a pluralidade e o reconhecimento de comunidades historicamente sub-representadas. É o que opina Grazi Mendes, head de Diversidade, Equidade e Inclusão da ThoughtWorks.

Segundo ela, “quando o Google opta por remover essas datas, ele não está apenas apagando eventos do calendário, mas deixando de reconhecer momentos que incentivam reflexões e diálogos importantes”. Para a executiva, essas ocasiões representam oportunidades para o aprendizado coletivo – momentos em que se questionava, se aprendia e se desafiava o status quo.

Em nota ao IT Forum, o Google revelou que por mais de uma década trabalhou com o site timeanddate.com para exibir feriados públicos e datas comemorativas nacionais no Google Agenda. Há alguns anos, no entanto, a equipe do Google Agenda começou a adicionar manualmente um conjunto mais amplo de momentos culturais em um grande número de países ao redor do mundo. “Recebemos feedbacks de que alguns eventos e países estavam faltando. Manter centenas de momentos de forma manual e consistente em nível global não era escalável nem sustentável. Por isso, em meados de 2024, voltamos a exibir apenas feriados públicos e datas comemorativas nacionais do timeanddate.com globalmente, enquanto permitimos que os usuários adicionem manualmente outros momentos importantes.”

Ainda em nota ao IT Forum, o Google afirmou que tem “o compromisso de criar um ambiente de trabalho em que todos os nossos funcionários possam ter sucesso e ter oportunidades iguais, e, ao longo do último ano, temos revisado nossos programas criados para nos ajudar a chegar lá.  Atualizamos a linguagem do nosso relatório 10-k para refletir isso, e como fornecedor em nível federal, nossos times também estão avaliando as mudanças exigidas após decisões judiciais recentes e ordens executivas sobre este tópico. Ainda estamos revisando nossos programas fora dos EUA.”

Grazi, no entanto, explica que a decisão de retirar as datas do calendário pode impactar outras esferas corporativas, como minar a confiança de funcionários, parceiros e usuários, evidenciando um alinhamento passageiro com práticas de inclusão que, ao mudar conforme as marés, deixam transparecer uma estratégia focada apenas em metas de curto prazo.

“Não existe inovação sem quebrar os padrões da indústria”, pontua ela. “Quando ignoramos a diversidade, mantemos a dinâmica dos espaços homogêneos, em que a criatividade é sufocada por uma câmara de eco. Isso gera uma crise de imaginação – os times se acomodam e os desafios se repetem”, assinala a executiva.

Citando Emicida, cuja trajetória artística e ativista tem sido um incentivador na luta contra as desigualdades, Grazi reforça: “Inovação de verdade vem da diversidade de vozes e experiências. Quando uma grande empresa silencia parte do nosso calendário, ela diminui a capacidade de se reinventar, de olhar para o futuro com coragem e criatividade”.

Inovação em foco

Para ela, a mudança gera reflexões importantes sobre a forma como grandes empresas encaram a diversidade. “Ao remover datas comemorativas, gigantes da tecnologia podem dar a impressão de que seu compromisso com inclusão é volátil, enquanto a diversidade deve ser um valor sólido e permanente”, reforça.

Inspirado nas reflexões de Ariano Suassuna, que exaltava o valor da realidade misturada com a magia da cultura popular – “o realismo fantástico que enriquece nossa identidade” –, Grazi pondera que, ao minimizar referências culturais que dialogam com a pluralidade, corre-se o risco de reduzir a riqueza das perspectivas que impulsionam novas ideias.

Da retórica ao compromisso real

Grazi reforça que “quando grandes empresas deixam de alinhar seus valores com ações consistentes, elas criam um distanciamento que pode afetar tanto a inovação quanto o desenvolvimento social e econômico”.

Grazi alerta ainda que para que o futuro não seja apenas uma repetição do passado, é essencial que empresas de tecnologia mantenham um compromisso contínuo com a diversidade. Esse compromisso deve ir além de rótulos e datas comemorativas – ele precisa estar enraizado nas práticas de gestão, no desenvolvimento de produtos e na própria cultura corporativa.

A especialista defende que a construção de um futuro mais inclusivo depende da disposição em enfrentar desafios com lucidez, sem perder de vista a força da esperança e da transformação. “As decisões de hoje moldam as oportunidades de amanhã, e cabe a cada um, especialmente aos que ocupam posições de liderança, assumir a responsabilidade de abrir caminhos e não de fechá-los”, alerta.

Como Suassuna lembra, cita ela, ser realista não significa aceitar o mundo como ele é, mas compreender sua complexidade para agir com consciência e coragem. “A inovação verdadeira nasce dessa inquietação, desse desejo de fazer diferente, garantindo que o progresso não seja privilégio de poucos, mas uma ponte para todos”, finaliza.

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