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Afinal, tudo deve ser tokenizado?

By 21 de fevereiro de 2025No Comments

Foto de um homem de pele clara, barba curta e cabelo escuro levemente ondulado. Ele veste um blazer preto sobre uma camisa preta e tem uma expressão confiante e amigável. Seus braços estão cruzados e o fundo é um cinza neutro, conferindo um aspecto profissional à imagem (token)

Desde a possibilidade da vitória de Donald Trump, um tema já conhecido pelo mercado financeiro voltou a ganhar destaque: a tokenização. De acordo com o Boston Consulting Group, esse setor pode atingir US$ 16 trilhões até 2030 e, desde o aceno de apoio do presidente dos Estados Unidos às soluções blockchain, tem conquistado ainda mais entusiastas.

Nesta quinta-feira (20), a Mastercard anunciou que planeja eliminar o uso de senhas nos checkouts on-line até 2030, substituindo-as pela tokenização. A iniciativa segue um movimento similar da Visa, que, no fim do ano passado, declarou que os tokens receberiam um grande investimento da empresa por meio do Visa Tokenized Asset Platform (VTAP), com foco no avanço do segmento de agronegócio.

No entanto, a corrida das grandes corporações para expandir e liderar esse mercado levanta uma questão: afinal, tudo deve ser tokenizado? Para André Carneiro, CEO da BBChain, empresa brasileira especializada em soluções blockchain para o setor corporativo, é sempre preciso considerar o que faz sentido para o negócio antes de adotar uma tecnologia.

“Isso vale tanto para empresas que querem tokenizar quanto para as que não querem. Muitas vezes ocorre o contrário – existe uma oportunidade de usar o token, mas o empresário não a vê ou tem receio”, afirma o executivo.

Atualmente, o mercado vive uma dualidade. Se, por um lado, grandes players e Wall Street estão novamente empolgados pela tecnologia, por outro, alguns setores ainda hesitam em investir na inovação ou se afastam devido aos altos custos de implementação. De acordo com Carneiro, o problema está na falta de comunicação e informação sobre os benefícios da tecnologia. Enquanto o mercado não atinge escala, a tokenização se torna ainda mais cara.

Uma pesquisa realizada pela Opimas revelou que apenas 0,003% do valor total dos ativos globais foi tokenizado e que muitas empresas por trás desses projetos estão à beira da falência. Além disso, somente cerca de 67.530 entidades possuem ativos tokenizados que não são stablecoins, de acordo com o rastreador de dados rwa.xyz.

Os setores mais maduros tecnologicamente, como o mercado financeiro, estão entre principais usuários da tokenização. No entanto, o CEO da BBChain destaca que ainda há um vasto campo a ser explorado, especialmente no agronegócio, na saúde e no setor de energia. No caso do agro, ele aponta que a tokenização ainda ocorre de forma marginal, com soluções como o Agrotoken. A principal barreira, segundo Carneiro, é a visão que os próprios agricultores têm sobre seus negócios.

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“Muitas vezes, o empresário acredita que seu negócio se resume a plantar grãos, mas é muito mais do que isso. Essa visão é fortemente enraizada, e sempre digo aos meus clientes que alguém se beneficia dessa mentalidade, impedindo-os de investir nesse tipo de inovação”, afirma.

Em muitos casos, a resistência surge devido a tentativas de uso inadequadas. Apesar de tudo poder ser tokenizado, antes de seguir com o investimento, a empresa precisa lembrar que a tecnologia blockchain funciona como um tipo específico de contrato inteligente, um protocolo de uma verdade compartilhada, por assim dizer. A palavra-chave aqui é “compartilhada”. Quando usada para criar um sistema interno, por exemplo, a tokenização pode tornar o processo mais custoso e lento.

“Chamamos isso de ‘euchain’ por aqui, quando o cliente quer usar blockchain apenas como um banco de dados. Em termos de desempenho, essa abordagem não é eficiente, pois existem soluções mais adequadas”, explica Carneiro. Ele também ressalta a importância de avaliar cada caso individualmente. Para empresas globais, por exemplo, pode haver valor em tokenizar determinadas informações.

Em um momento de empolgação do mercado para tokenizar, selecionar corretamente os ativos e procurar por empresas experientes pode impedir também ataques cibernéticos sérios. O custo atual da tecnologia muitas vezes gera a busca por contratos não auditados ou com pouca experiência, criando uma superfície de ataque maior. Outro ponto importante para quem quer investir é garantir a robustez do sistema de cibersegurança, caso opte pela auto custódia das chaves.

“Eu costumo dizer que trabalhar com blokchain é como colocar um alvo na sua testa. Então é preciso buscar por empresas especializadas e com tempo de mercado, assim como fazemos ao escolher um banco.” afirma o CEO.

Entre os casos de mau uso mais comuns também existem os “seguidores de meme”. Empresários que desejam começar a emitir moedas ao ver a valorização de executivos como Sam Altman e Donald Trump ganharem relevância.

Nesses casos, a BBChain busca conscientizar seus clientes sobre questões regulatórias, como a LGPD, e a importância de garantir que a moeda emitida tenha um lastro. “No fim, o token precisa fazer sentido para o seu negócio”, enfatiza Carneiro.

Diante de um cenário com entusiastas e céticos, a empresa tem direcionado seus esforços para um novo público: as médias e pequenas empresas. Desde 2024, a BBChain vem investindo em uma comunicação massiva para chegar em empresários menores e, de acordo com seu CEO, a estratégia tem mostrado resultado nos últimos meses. No último ano, foram impactadas 72 empresas médias, resultando em nove casos diferentes de tokenização.

Para alcançar neste cliente final, Carneiro desenvolveu produtos de entrada nos quais o empresário não precisa investir em infraestrutura, mas pode acessar um conjunto de projetos e capacidades prontas, reduzindo o custo final. Desde 2020, a empresa conseguiu reduzir em 75% os custos de implantação de um projeto.

Além disso, a companhia busca descomplicar o vocabulário no momento da venda, destacando os ganhos em eficiência operacional e o acesso a novos mercados. “Principalmente em setores com menor maturidade tecnológica, não podemos abordar os clientes tentando vender tecnologia, mas sim soluções”, afirma o CEO.

Para ele, disseminar informações sobre o uso adequado dos tokens é a chave para que o mercado ganhe liquidez e se torne mais acessível nos próximos três anos, já que o envolvimento de médias e pequenas empresas pode gerar maior volume de projetos. Caso contrário, essas mesmas companhias correm o risco de se tornar apenas usuárias e consumidoras das soluções desenvolvidas pelos grandes players.

“Quero que o mercado escale, pois acredito que isso é saudável. Para isso, precisamos dessa movimentação de outros setores. Nosso trabalho é seguir educando quem chega, para que utilizem a tecnologia da melhor forma possível. Já fizemos isso uma vez com os grandes e agora digo que é a mesma coisa, mas com jogadores diferentes”, conclui.

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