
*Por Thomas Barth, COO do iFood Pago
Nos últimos dias, as atenções se voltaram para o South By Southwest (SXSW), festival anual de inovação, tecnologia, cinema e música realizado na cidade de Austin, no Texas.
Os primeiros dias de evento já trouxeram informações valiosas e tendências nos mais variados setores, mas o grande destaque ficou por conta da 18ª edição do 2025 Tech Trends Reports, um relatório de mil páginas da futurista americana Amy Webb.
Em uma master class sobre Financial Services Futures, Amy Webb e Nick Bartlett, diretor do Future Today Strategy Group (FTSG), apresentaram pontos fundamentais para o crescimento das organizações, explorando a importância da visão de futuro estratégica e como ela pode ser utilizada para impulsionar a inovação e a tomada de decisões. Como grande admirador da área de finanças e tecnologia, não poderia deixar de compartilhar um pouco do que foi essa importante master class.
Uma questão em comum no setor financeiro é a reatividade, que é quando as empresas se concentram em tendências já estabelecidas ao invés de antecipar mudanças futuras. A reatividade é vista como um problema, porque a falta de uma previsão estratégica pode levar as organizações à perda de oportunidades e, consequentemente, à incapacidade de se preparar para o futuro. Em vez de antecipar tendências e se adaptar proativamente, as empresas reativas estão constantemente correndo atrás do mercado, tentando resolver problemas que já se tornaram realidade, o que não é o caminho ideal.
Idealmente, precisamos conectar insights de previsão com a estratégia, sendo assim, somos capazes de promover ações proativas que impulsionam as organizações em direção aos objetivos de longo prazo.
Um exemplo citado fala sobre como Frances Perkins, socióloga e ex-secretária do Trabalho dos Estados Unidos entre os anos 1930 e 1940, usou essa prática de previsão estratégica para moldar a segurança financeira nos Estados Unidos. Perkins manteve uma filosofia, inovadora para a época, de compreender os desafios da Grande Depressão, para se preparar para o futuro.
Em um discurso realizado em 1935, ela afirmou que os americanos não deveriam se contentar com medidas provisórias para superar as emergências atuais. Em vez disso, defendeu planos para aliviar os males do presente e também prevenir as ocorrências futuras. A socióloga usou a previsão estratégica para identificar os problemas que causaram a grande depressão e criar soluções que protegessem os americanos de futuras dificuldades econômicas.
Por que o setor financeiro é tão reativo?
Bom, vários fatores contribuem para essa reatividade no setor, como:
- Foco excessivo em tendências, fazendo com que as organizações do setor tendem a se concentrar no que já aconteceu, ao invés de tentar prever o que está por vir;
- Aversão à incerteza, na qual os líderes buscam o que é seguro e certo, com medo de explorar a incerteza, fazendo com que as companhias não saiam do lugar;
- Processos decisórios lentos, onde as empresas demoram muito para estudar um problema, buscar consenso e tomar uma decisão, de modo que, quando finalmente resolvem agir, já é tarde demais;
- Falta de visão, que leva à indecisão e à frustração.
Outro exemplo usado por Nick Bartlett em sua fala para ilustrar a reatividade foi a reação do setor de seguros à pandemia. Em vez de tentar prever as mudanças de longo prazo que a pandemia traria, as empresas se concentraram em questões de curto prazo, fazendo com que perdessem a oportunidade de se preparar para o futuro e de se adaptar às novas realidades do mercado.
Principais tendências para os serviços financeiros
A master class destacou três grandes forças principais que estão se tornando ainda mais relevantes para moldar o setor financeiro: trade, IA e clima.
- Apesar de serem preocupações constantes, organizações financeiras estão trabalhando o comércio global e a volatilidade do mercado de acordo com os acontecimentos atuais;
- A Inteligência Artificial (IA) tem sido bastante utilizada ao mesmo tempo em que as organizações tentam entender os impactos na automação e eficiência operacional. Sabemos que a I.A não é uma novidade e que seus impactos já são discutidos há quase um século, mas a questão não é se ela deve ser utilizada, mas sim como utilizá-la de forma estratégica;
- As mudanças climáticas e seus efeitos têm impactado nas decisões de investimentos e seguros, levando investidores a adotarem novas estratégias para mitigar riscos e aproveitar oportunidades associadas à transição para uma economia mais sustentável.
A importância da previsão e do planejamento estratégico para as empresas de serviços financeiros e seguros
A palestra nos mostrou como a análise preditiva pode auxiliar as organizações financeiras a se prepararem para o futuro das seguintes formas:
- Identificando tendências emergentes que podem afetar os negócios, como mudanças climáticas e demográficas e avanços tecnológicos;
- Avaliando riscos associados a essas tendências e desenvolvendo estratégias para mitigá-los;
- Desenvolvendo produtos e serviços que atendam às necessidades de seus clientes;
- Tomando decisões mais informadas sobre investimentos, preços e outras questões estratégicas;
- Preparando-se para as transformações que estão por vir para manter a competitividade.
Sabemos que este é um mercado que enfrenta desafios relacionados à mentalidade, metodologia e motivação que dificultam a aplicação da previsão. Superar esses desafios requer uma mudança cultural, uma abordagem estruturada para a coleta e análise de informações e um foco na ação ao invés de somente observação.
Para combater a reatividade, é necessário mudar a mentalidade, desenvolvendo uma cultura preditiva que incentive a segurança psicológica e conecte-se à estratégia. Ao fazer isso, as companhias podem se tornar mais proativas e estar melhor preparadas para enfrentar os desafios e oportunidades do futuro.
O post SXSW: Saindo da reatividade para a previsão estratégica apareceu primeiro em Startups.