A Apple ficou de fora do julgamento que pode mudar as regras do jogo no setor de buscas e, de quebra, abalar um dos acordos mais lucrativos de sua história recente. A Corte de Apelações do Circuito de DC, nos Estados Unidos, rejeitou a tentativa da empresa de integrar a fase final do processo antitruste movido pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos contra o Google. A justificativa dos juízes? A Apple demorou demais para se posicionar.
Segundo informações da Ars Technica, o caso gira em torno do acordo que garante ao Google o posto de buscador padrão no Safari, tanto em iPhones quanto em Macs. Por esse privilégio, o Google desembolsa cerca de US$ 20 bilhões anuais à Apple, parceria estratégica que beneficia as duas gigantes.
Mas com a condenação do Google em agosto de 2024 por práticas anticompetitivas, esse arranjo está por um fio. A proposta de penalidades apresentada pelo governo em outubro ameaça tornar ilegais os pagamentos feitos pelo Google para manter sua busca como padrão. E a Apple, que só entrou com um pedido formal para participar do processo 33 dias depois da proposta de solução, foi considerada lenta demais pela corte.
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Com a decisão, a Apple poderá apenas enviar testemunhos escritos e apresentar pareceres como “amiga da corte”, sem direito a interrogatórios ou apresentação direta de provas. A empresa argumenta que tem interesse direto no desfecho, mas os juízes foram claros: o prazo perdido não tem justificativa plausível.
O que está em jogo para a Apple?
Caso a justiça mantenha a proibição do acordo com o Google, a Apple terá de buscar outro parceiro ou seguir oferecendo o buscador do Google sem receber por isso. Nenhuma das opções é ideal para Cupertino, que terá de encontrar formas de compensar a perda de bilhões em receita anual.
O problema é que não há muitas alternativas viáveis. O Bing, da Microsoft, é o principal concorrente, mas ainda está longe de rivalizar com o domínio do Google, que responde por mais de 90% das buscas globais. Provedores menores como DuckDuckGo ou Kagi não têm escala suficiente para assumir o posto.
Kagi, inclusive, declarou à Ars Technica que espera que a Apple torne mais simples a escolha de motores alternativos no Safari, criticando as barreiras atuais que dificultam essa troca.
Além da busca
O caso contra o Google é considerado o mais relevante do governo norte-americano contra uma empresa de tecnologia desde o processo contra a Microsoft, nos anos 1990. A extensão das medidas propostas, que chegaram a incluir a possibilidade de obrigar o Google a vender seus investimentos em IA, como a participação na startup Anthropic, sinaliza que os reguladores estão dispostos a ir além do simbólico.
No curto prazo, o impacto mais visível pode ser na própria experiência dos usuários de iPhone, que podem ver o buscador padrão do Safari mudar. No longo prazo, o fim da aliança entre Apple e Google reconfigura o ecossistema digital e abre espaço para discussões sobre monopólios, padrões de privacidade e inovação.
Enquanto isso, o Google retorna aos tribunais nas próximas semanas, desta vez, sem a companhia de seu parceiro de US$ 20 bilhões na linha de frente.
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