
*Por Pedro Vasconcellos, cofundador da Woba, jurado e membro do conselho do SXSW
O “AI First” já deixou de ser um conceito futurista para se tornar uma estratégia concreta de sobrevivência no mercado. Empresas que realmente abraçam essa abordagem não usam a IA como um simples acessório tecnológico, mas como a base estrutural de todas as suas operações. Ao adotar essa abordagem, elas deixam de utilizar a inteligência artificial como uma ferramenta de apoio para posicioná-la como base estrutural de todas as operações.
Nestes casos, as companhias passam a tomar decisões com base em dados, automatizam processos com eficiência e desenvolvem produtos a partir de modelos de aprendizado contínuo. E, então, mudamos a pergunta central. O que antes era “como a IA pode nos ajudar?” passa a ser “quais problemas a IA nos ajudará a enxergar?”.
No setor de escritórios flexíveis, essa mentalidade ganha uma dimensão ainda mais estratégica. Essa inteligência deve ir além do tradicional, utilizando IA para entender padrões de uso, prever fluxo de ocupação e personalizar a jornada dos colaboradores dentro dos ambientes físicos. Espaços corporativos inteligentes são aqueles que antecipam necessidades.
Um dos conceitos discutidos no South by Southwest (SXSW) de 2025 que ajuda a materializar essa visão foi o de interfaces invisíveis. No contexto de real estate corporativo, essas interfaces se traduzem em sensores, algoritmos e sistemas preditivos que atuam de forma integrada. Imagine um time com pessoas que têm sensibilidade à luz: a IA não apenas identifica esse padrão, como sugere layouts mais eficientes e ajusta automaticamente a iluminação para esses colaboradores. A verdadeira inteligência não está no metro quadrado ou no design do mobiliário, mas na capacidade do espaço de se transformar continuamente para servir melhor às pessoas que o utilizam.
Assim, a IA atua como uma camada de inteligência contínua, conectando dados de uso, comportamento, performance e preferências individuais para o bem-estar coletivo. A tomada de decisão sobre o uso de um espaço deixa de ser reativa e passa a ser informada por dados e orientada por algoritmos que aprendem e se adaptam.
Com a IA integrada aos espaços, surge também uma nova dimensão nas relações de trabalho. Ferramentas de inteligência artificial podem, por exemplo, entender como diferentes perfis se adaptam melhor a certos formatos de trabalho e ajustar os ambientes em tempo real para atender essas necessidades. Essa mudança de foco — do comando para o cuidado, do espaço para a experiência — é talvez o maior diferencial competitivo no cenário atual.
E se a empresa não nasceu AI First?
Ainda assim, a adaptação é possível, mas exigem mudanças profundas e uma liderança que esteja disposta a isso, formando equipes com novas habilidades, estabelecendo estruturas de governança para uso ético dos dados e criando espaços de experimentação tecnológica dentro da empresa. A IA deve ser encarada como uma camada transversal, e não como um departamento isolado. E, certamente, isso implica em desafios, o que é natural.
Durante o SXSW, ficou claro que empresas nativas digitais já operam sob uma lógica diferente, e em uma palestra aprendemos cinco princípios fundamentais para isso. Em primeiro lugar vem a democratização do conhecimento dentro das empresas, onde agentes de IA se tornam assistentes acessíveis a todos os colaboradores. O segundo princípio é que nenhuma companhia deve deixar de coletar e utilizar os dados a seu favor, e isso pode ser, de fato, o diferencial dessa organização.
Essa abordagem naturalmente leva a estruturas mais horizontais, como menos camadas gerenciais, que é o nosso terceiro tópico. Com agentes de IA cuidando de tarefas operacionais e processos burocráticos, as hierarquias tradicionais se tornam menos necessárias. Mas, ainda assim, alguém deve treinar e gerenciar esse sistema, então esse deve ser um investimento.
Como quarto tópico temos o que chamamos de vantagem composta. Imagine um assistente de IA que, ao perceber que um argumento específico aumenta as taxas de fechamento em vendas, automaticamente ajusta todas as apresentações e scripts da equipe. O aprendizado de uma pessoa se torna o benefício de toda a organização, em tempo real. E por último temos o quinto princípio, que fala sobre como as companhias que nasceram nativas da IA olha também para o ataque. Elas se perguntam “se estivéssemos fundando essa empresa hoje, do zero, o que a IA nos permitiria fazer que antes era impossível?”
Esses cinco princípios são o que definirão esse futuro — com empresas mais inteligentes, responsivas e estrategicamente orientadas. Claro, a adaptação envolve riscos, como toda mudança profunda, mas uma coisa é certa: no ritmo acelerado em que o mercado está evoluindo, empresas que não colocarem a IA como fundamento de suas operações estarão sempre um passo atrás. É sobre repensar um mundo onde a inteligência artificial passa a ser o motor das transformações no trabalho, nas cidades e na vida.
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