O apagão que afetou parte da Europa nesta segunda-feira (28) pode ter sido causado por um fenômeno climático raro. Denominado “variação climática induzida”, o evento ocorre devido a uma oscilação abrupta de temperatura e umidade relativa do ar, o que teria provocado um dano físico nos cabos das linhas de transmissão de alta tensão – 400 a 500 kW –, já que a tensão sofrida seria superior à habitual.
Na manhã de ontem, a Redes Energéticas Nacionais (REN), companhia de energia elétrica de Portugal, afirmou em entrevista a possibilidade do fenômeno. Por sua vez, o chefe de operações do sistema da Rede Elétrica da Espanha (REE), Eduardo Prieto, declarou que o sistema foi impactado por uma perda drástica na geração de energia no sudoeste espanhol. O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, também mencionou uma “forte oscilação” na rede elétrica europeia como possível gatilho, mas sem conclusões definitivas.
De acordo com Sandro Faria, diretor-executivo do Centro de Inovação e Pesquisa Itaqui, o evento está relacionado às mudanças climáticas e, apesar de incomum, pode se repetir em outras regiões do planeta. “Nós tivemos um março muito atípico na Península Ibérica; foi historicamente o mais chuvoso da região e, em abril, já na primavera europeia, ocorreram eventos de neve. Foi uma inversão térmica extremamente anormal, e essas anomalias de extremos climáticos tendem a acontecer não apenas aqui.”
Em seu boletim mais recente, o observatório europeu Copernicus (C3S) declarou que março de 2025 foi o mais quente já registrado na Europa, com uma temperatura média de 14,06 °C. Grande parte do sul europeu apresentou condições mais úmidas do que a média, especialmente a Península Ibérica, “atingida por uma série de tempestades e afetada por inundações generalizadas”.
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Diante desse cenário, Faria acredita que seriam necessários grandes investimentos em infraestrutura para prevenir novos apagões. “Se isso realmente estiver correlacionado a essa alteração induzida, a solução imediata seria enterrar todas as linhas de transmissão de alta tensão, que hoje são aéreas. Teríamos que tornar toda essa rede de distribuição subterrânea.”
No entanto, o pesquisador alerta para a importância de continuar investindo em ciência para restaurar ecossistemas já degradados e reverter as atuais mudanças climáticas.
“Acima de tudo, é fundamental trabalhar no desenvolvimento de pesquisa e tecnologia para mitigar esses impactos e preservar a biodiversidade, porque apenas com essas ações combateremos diretamente os extremos climáticos”, finaliza.
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