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“Assuma sua ambição sem pedir desculpas”, aconselha Vidya Peters em visita ao Brasil

By 8 de maio de 2025No Comments

Vidya Peters, CEO da DataSnipper, durante apresentação no palco principal do primeiro dia do Web Summit Rio 2025, realizado no Riocentro, no Rio de Janeiro. Foto: Vaughn Ridley/Web Summit via Sportsfile

Vidya Peters atravessou o oceano para observar, de perto, como a inteligência artificial pode prosperar em uma das economias mais complexas do mundo. A CEO da DataSnipper, scale-up holandesa especializada em automação de auditorias, desembarcou no Brasil no contexto de um crescimento exponencial da empresa: 6.715% em faturamento e uma presença que dobrou em regiões como América Latina e Ásia-Pacífico. Em sua primeira visita ao país, participou do Web Summit Rio e confirmou: o Brasil está no radar, não apenas como mercado, mas como campo de teste para uma nova relação entre humanos, algoritmos e números.

Se o nome ainda não diz muito ao público geral, nos bastidores de auditorias corporativas ele circula com mais fluidez. A plataforma da DataSnipper automatiza tarefas que antes consumiam dias de trabalho humano, como cruzar contratos, validar faturas e conferir planilhas. Em vez de ler célula por célula, o auditor agora carrega um arquivo e assiste à máquina extrair os dados em segundos. Segundo a executiva, uma tarefa que antes durava oito horas pode ser resolvida em uma. E com evidência rastreável.

“Não se trata de substituir pessoas”, diz. “Se trata de capacitá-las.” A executiva retorna a essa frase com frequência, como se dissesse ao interlocutor, ou ao próprio setor, que não há o que temer.

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Entre a produtividade e a ética

A DataSnipper é um exemplo concreto do que a inteligência artificial promete desde que saiu dos laboratórios acadêmicos: mais eficiência, menos repetição. Mas com um pé fincado na realidade, e outro no compliance. “Adotamos uma abordagem de ‘confiança zero’”, explica Vidya. Isso significa que todo insight gerado pelo sistema precisa estar vinculado diretamente ao documento-fonte. Nenhuma inferência isolada, nenhuma resposta sem rastreabilidade.

É um antídoto contra as chamadas “alucinações” dos modelos generativos, nos quais a IA produz respostas falsas com aparência de verdade. Vidya enfatiza que, no caso de auditorias, o risco não é apenas técnico, é legal. “A responsabilidade sempre será do auditor e da firma”, afirma. O robô, nesse caso, apenas entrega um rascunho bem mastigado. A caneta final ainda está na mão humana.

A automação que não demite

Em um setor onde o trabalho manual é abundante e a margem de erro é zero, a promessa de automação costuma vir acompanhada de um temor: e os empregos? Vidya inverte a equação. A cada avanço da DataSnipper, diz ela, surge uma oportunidade para os profissionais deixarem de ser verificadores de planilhas para se tornarem estrategistas de negócios. “Estamos vendo uma transformação de funções, e não sua eliminação.”

É um discurso que alinha produtividade com propósito, algo cada vez mais cobrado de lideranças em tempos de IA generativa. Ela mesma se vê parte dessa pressão. “O papel do CEO, hoje, é equilibrar inovação com governança”, diz. Em sua visão, liderar exige aprender o básico da tecnologia, mas também criar espaço para perguntas incômodas. Transparência, nesse campo, vale tanto quanto performance.

A vantagem competitiva na regulação

A Holanda, onde fica a sede da DataSnipper, é cercada por um dos marcos regulatórios mais rígidos do planeta: o GDPR. A executiva vê isso como uma vantagem competitiva. “Incorporamos privacidade desde o início do produto”, afirma. A empresa, segundo ela, não usa dados de clientes para treinar seus modelos. Nenhum documento enviado é reaproveitado ou armazenado para outras finalidades. “Os dados são dos clientes. Sempre.”

No Brasil, onde a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) segue a mesma lógica do GDPR, a adaptação tem sido relativamente tranquila. A diferença, diz a executiva, está mais na cultura corporativa do que nas leis. “Algumas organizações ainda resistem a abandonar métodos tradicionais. Mas isso está mudando rápido”, afirma. Especialmente em setores pressionados por prazos, como auditoria fiscal e conformidade tributária.

Crescimento com freio de mão

Com escritórios recém-abertos na América Latina e Ásia, a DataSnipper enfrenta agora um novo desafio: crescer rápido sem perder o controle. “Responsabilidade social e transparência precisam caminhar com o crescimento”, diz. Isso inclui investimentos em formação técnica e programas de uso ético de IA. A companhia evita, por exemplo, vender sua tecnologia como uma solução “plug and play”. O onboarding é gradual, com treinamento para garantir que o humano siga no comando.

Esse controle é ainda mais necessário quando se lida com dados sensíveis, como balanços financeiros, contratos e registros fiscais. A ideia, segundo Vidya, é que a IA seja uma extensão da mente do auditor, não um substituto do seu julgamento.

Vidya no topo

Ao longo da conversa, Vidya intercala termos técnicos com memórias pessoais. A executiva começou a carreira em um setor onde, como mulher, era frequentemente a única da sala. “Muitas vezes tive que provar minha credibilidade duas vezes”, conta. O caminho até o cargo de CEO exigiu, segundo ela, menos certezas e mais persistência. “Liderar não é sobre ser perfeita, é sobre ser autêntica.”

Às novas líderes, ela dá um conselho direto: “Assuma sua ambição sem pedir desculpas”. Para ela, conhecimento técnico e visão de negócio são tão importantes como redes de apoio, formais ou informais. E, sobretudo, é preciso lembrar das que vieram antes. “Todas nós estamos construindo sobre os passos pioneiros de outras mulheres.”

O recibo está nos números

De volta aos dados, o salto da DataSnipper não veio por acaso. É resultado de uma proposta concreta: aliviar o fardo operacional de quem precisa garantir que as contas fechem. E, ao mesmo tempo, garantir que a inteligência artificial usada nesse processo tenha lastro, fonte e limites bem definidos.

No Brasil, um país onde o sistema tributário é um dos mais complexos do mundo, a aposta é alta. Vidya sabe disso, e aposta na própria adaptabilidade da empresa para seguir crescendo. “As equipes aqui estão pressionadas a fazer mais com menos”, diz. “Mas quando elas veem que podem economizar horas com apenas alguns cliques, a mentalidade começa a mudar.”

Entre planilhas, faturas e contratos, a revolução da IA na auditoria ganha tração. E agora fala também português.

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