Durante recente entrevista ao The New York Times, Bill Gates fez duras críticas a Elon Musk e ao presidente Donald Trump, associando cortes drásticos no orçamento da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) a um possível aumento expressivo nas mortes de crianças nos países mais pobres.
Segundo Gates, as reduções no financiamento de programas de assistência global são “surpreendentes” e colocam em risco décadas de progresso em saúde pública e combate à mortalidade infantil.
Gates, que há décadas atua em ações filantrópicas por meio da Fundação Bill & Melinda Gates, apontou que, até pouco tempo, havia uma expectativa otimista de que o número anual de mortes de crianças no mundo cairia de 5 milhões para 4 milhões.
No entanto, com os cortes orçamentários recentes, ele alerta para uma tendência alarmante: esse número pode, na verdade, subir para 6 milhões de mortes por ano. “A menos que haja uma reversão drástica, é isso que vamos ver acontecer”, afirmou Gates.
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Sem ações efetivas de Trump
O empresário revelou ainda que, em um jantar de três horas com Donald Trump no final do ano anterior, ficou inicialmente impressionado com o interesse do então presidente nos temas apresentados. No entanto, ficou claro depois que esse interesse não se traduziu em ações efetivas.
A administração de Trump, com o apoio de Elon Musk — que à época foi apontado como o “czar da eficiência” do governo — promoveu cortes profundos em diversos programas federais, incluindo os repasses à USAID. A notícia teria causado grande preocupação dentro da própria Fundação Gates, segundo o Times.
“O que foi feito com a USAID é inacreditável. Eu imaginei algo em torno de 20% de redução. Mas o que tivemos foi um corte de 80%. E não, eu não esperava isso. Acho que ninguém esperava”, destacou Gates.
O bilionário não poupou críticas a Musk, afirmando que o dono da Tesla e da SpaceX teve papel direto nos cortes. De forma irônica, Gates disse que Musk “jogou tudo no triturador de madeira, só porque não foi a uma festa naquele fim de semana”, sugerindo que decisões de impacto global foram tomadas com base em impulsos pessoais e sem consideração pelas consequências.
A entrevista ganhou ainda mais relevância por coincidir com o anúncio de que Gates pretende encerrar oficialmente a Fundação Bill & Melinda Gates até 31 de dezembro de 2045. Até lá, ele promete doar 99% de sua fortuna para causas relacionadas à saúde, educação e combate à pobreza no mundo. É uma meta ambiciosa, especialmente num momento em que ele expressa preocupação com a crescente desigualdade e com a redução de investimentos públicos em iniciativas humanitárias.
Musk doará maior parte da fortuna?
O jornalista David Wallace-Wells, do Times, questionou Gates sobre o fato de Musk também ser signatário do Giving Pledge — compromisso assumido por alguns dos mais ricos do mundo para doar a maior parte de sua riqueza ainda em vida. Gates, um dos fundadores dessa iniciativa ao lado de Warren Buffett, respondeu com frieza: “Um aspecto incomum do Giving Pledge é que você pode esperar até morrer para cumprir. Então, quem sabe? Talvez ele ainda se torne um grande filantropo. Mas, por enquanto, o homem mais rico do mundo está envolvido na morte das crianças mais pobres do planeta.”
A fala causou repercussão mundial e reacendeu o debate sobre a responsabilidade social de bilionários e grandes empresas de tecnologia no cenário global. A crítica direta de Gates a Musk contrasta com o discurso mais ameno que vinha adotando em ocasiões anteriores e evidencia um ponto de ruptura entre dois dos empresários mais influentes do século.
Enquanto Gates reforça seu compromisso com ações filantrópicas de longo prazo, Musk continua sendo uma figura polarizadora, com investimentos em inteligência artificial, viagens espaciais e projetos ambiciosos para o futuro da humanidade — mas, na visão de Gates, com pouca sensibilidade às urgências do presente.
A entrevista reforça a importância de decisões políticas e empresariais fundamentadas não apenas em inovação e lucro, mas também em responsabilidade social e compromisso com os mais vulneráveis.
A acusação de que Musk, direta ou indiretamente, teria contribuído para um cenário em que milhões de crianças possam morrer por falta de recursos em programas básicos de saúde e alimentação levanta uma reflexão importante: qual é o verdadeiro custo das escolhas políticas e econômicas dos líderes globais?
Gates encerra a entrevista reafirmando sua missão de vida: “Vou doar tudo. Quero ver esse recurso fazer diferença enquanto ainda estou aqui.” Ele afirma que o encerramento da Fundação Gates em 2045 não será o fim de seu trabalho, mas o ápice de um compromisso de décadas com a redução do sofrimento humano.
*Com informações do The Verge
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