O Brasil vive uma janela única de oportunidade para exercer protagonismo global na revolução de tecnologias como a inteligência artificial (IA). Essa é a percepção de três executivos brasileiros de empresas globais de tecnologia durante o painel “Líderes brasileiros no cenário global: como eles influenciam a inovação e o futuro dos negócios“, realizado nesta quinta-feira (01), durante o IT Forum Trancoso.
Cesar Gon, fundador e CEO da CI&T, iniciou o debate destacando oportunidade para líderes e empresas brasileiras começa com a geopolítica. Neste momento, disse, algumas das regiões do planeta que historicamente competiam com a América Latina no fornecimento serviços e soluções de tecnologia para mercados ocidentais maduros, como os Estados Unidos – casos da Rússia e da China –, não se mostram viáveis no contexto atual de polarização. Isso abre novas portas para o País, diante da alta demanda por talentos na área de TI.
“Restou a Índia e nós, da América Latina, onde o Brasil concentra, de longe, a maior quantidade de profissionais qualificados. Somos o grande celeiro de talentos da região. Também contamos com um fuso horário extremamente apropriado para fazer negócios com os Estados Unidos. É inescapável, nessa revolução da inteligência artificial, que a gente tenha protagonismo”, avaliou Gon.
“Estando fora do Brasil há cinco anos, tenho convicção de que somos muito melhores do que imaginamos”, continuou Rodrigo Caserta, CEO global da Avanade.
Para o executivo, os brasileiros já lidam com uma série de situações desafiadoras no dia a dia, o que torna os profissionais nacionais ainda mais preparados para enfrentar obstáculos nos negócios. “Percebo que, fora do Brasil, há profissionais muito bem formados que, em situações difíceis, tendem a recuar, enquanto os brasileiros crescem absurdamente”, comentou.
Em sua visão, essa “incerteza”, que faz parte do cotidiano de muitas organizações no País, agora também é realidade em escala global – na prática, isso representa uma vantagem para empresas e lideranças brasileiras. “Acho que nossa atitude, o nível de ousadia, criatividade, resiliência e intensidade para resolver problemas são características que, em cenários como o atual, podem projetar o executivo brasileiro como uma liderança natural”, opinou.
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Já Marco Stefanini, fundador e CEO global da Stefanini, também enxerga grande potencial para companhias brasileiras no exterior, mas fez um alerta: segundo ele, o tamanho continental do Brasil pode funcionar como uma armadilha para as companhias nacionais. “O País acaba isolado em si mesmo”, afirmou. “É preciso romper com essa mentalidade.”
Na avaliação do líder da Stefanini, “coragem para inovar” é uma prioridade neste momento para as empresas brasileiras, e há oportunidades de se engajar em temas como inovação, transformação digital e IA com uma abordagem de negócios que vá além da tecnologia.
“Quando falamos desses temas, eles estão muito mais ligados à gestão da mudança do que à tecnologia em si. Por isso, é necessário ousar em vários aspectos – inclusive, ter a audácia de pensar grande e mirar o mercado externo”, afirmou.
Sobre a experiência de internacionalização da CI&T, Gon compartilhou que é preciso uma combinação de visão de longo prazo, resiliência e capital para que qualquer organização alcance sucesso em sua expansão internacional. No entanto, o ponto crítico, segundo ele, é desenhar uma estratégia que leve a reputação da empresa para o exterior de forma adaptada aos códigos culturais do país de destino.
“É preciso levar o DNA brasileiro, com executivos nacionais de alto potencial, mas também se cercar de talentos locais, que compreendam os códigos culturais e a velocidade dos negócios no país, que variam muito”, explicou.
Sobre o tema, Caserta, da Avanade, comentou que a empresa decidiu recentemente utilizar suas equipes no Brasil também como centro de entrega de serviços para os Estados Unidos. A visão da companhia é de que os times locais têm capacidade de oferecer serviços de alto valor agregado, com uma combinação de inovação e criatividade atrativa para o mercado norte-americano.
“Os gringos dizem que nós somos ‘easy to do business with’”, brincou. “E, de fato, vejo isso. Não é difícil trabalhar com brasileiro. Brasileiro se dá bem com qualquer um.”
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