A startup especializada em aluguel de servidores para inteligência artificial, CoreWeave, está dobrando sua aposta em crescimento acelerado. Após divulgar seu primeiro balanço trimestral desde que abriu capital em março, o CEO, Michael Intrator, saiu em defesa do plano ambicioso de investimentos que pode chegar a US$ 23 bilhões em 2025, dizendo que a empresa está apenas “respondendo aos sinais de demanda” emitidos por seus maiores clientes — entre eles, OpenAI, Nvidia e Microsoft.
Apesar do forte crescimento de receita e projeções robustas para o ano, as ações da CoreWeave oscilaram após a divulgação dos resultados e fecharam em queda de 2,5%. Analistas de Wall Street demonstraram preocupação com o aumento da dívida da empresa e questionaram se a atual demanda será sustentável no longo prazo.
Leia também: Hydronorth democratiza acesso a dados com Qlik e mira incorporar IA
Capex elevado é reflexo do sucesso
Em entrevista à CNBC no programa “Squawk on the Street”, Intrator afirmou que os altos gastos com capital não são sinal de risco, mas consequência direta do sucesso da empresa em captar novos contratos e expandir sua infraestrutura.
“O aumento no orçamento de capex é impulsionado por nosso sucesso. Estamos atendendo clientes críticos que precisam de infraestrutura com mais rapidez”, disse Intrator.
A CoreWeave projeta investimentos entre US$ 20 e US$ 23 bilhões neste ano, valor que considera um contrato bilionário firmado recentemente com a OpenAI, bem como outros fatores relacionados à capacidade e escalabilidade da empresa. Os contratos de longo prazo, segundo o CEO, garantem estabilidade para os credores que financiam a expansão da infraestrutura.
“Nossos financiadores analisam os contratos, entendem o nosso modelo de negócio e continuam nos oferecendo crédito para escalar e entregar”, afirmou.
Parcerias com gigantes e backlog crescente
A CoreWeave vem acumulando contratos com alguns dos maiores nomes da tecnologia. A OpenAI, por exemplo, firmou um acordo de US$ 12 bilhões por cinco anos em março e adicionou outro contrato de US$ 4 bilhões ao final do trimestre, totalizando US$ 16 bilhões apenas com esse parceiro. A empresa também tem contratos com a Nvidia, que investe diretamente na operação, e com a Microsoft.
Mesmo com esse volume expressivo, o backlog total da CoreWeave (incluindo obrigações de desempenho restantes e receitas futuras) caiu de US$ 15,1 bilhões no fim de 2024 para US$ 14,7 bilhões neste último trimestre. Porém, quando somado a outras receitas reconhecidas, o backlog subiu 63% e chegou a US$ 25,9 bilhões no período.
Para 2025, a empresa projeta receitas entre US$ 4,9 bilhões e US$ 5,1 bilhões, o que representa um crescimento de 363% em relação ao ano anterior. No segundo trimestre, a expectativa é de uma receita entre US$ 1,06 bilhão e US$ 1,1 bilhão, superando a projeção de US$ 986,7 milhões feita pela LSEG.
No trimestre encerrado, a CoreWeave reportou uma receita de US$ 981,6 milhões, acima dos US$ 853 milhões estimados pelo mercado — um crescimento impressionante de 420% em relação ao mesmo período do ano passado.
Lucro sob pressão: compensações em ações ampliam prejuízo
Apesar do avanço da receita, a empresa registrou um prejuízo líquido de US$ 314,6 milhões, ampliado em comparação aos US$ 129,2 milhões negativos de um ano antes. A principal causa foi uma despesa contábil de US$ 177 milhões com remuneração em ações, relacionada à oferta pública inicial de ações da empresa (IPO).
Esse prejuízo levantou alertas entre investidores e analistas, especialmente em relação à sustentabilidade do modelo de negócio. A estrutura da CoreWeave se baseia em alugar servidores de alta performance com chips de IA, como os da Nvidia, para outras empresas que não querem ou não podem investir na própria infraestrutura.
Wall Street questiona modelo e rentabilidade
A crescente dependência de financiamento para sustentar a expansão chamou atenção do mercado. O analista Gil Luria, da DA Davidson, rebaixou a recomendação das ações da CoreWeave de “neutra” para “underperform” (desempenho abaixo da média). Segundo ele, a empresa está fazendo um “uso destrutivo de capital” ao financiar ativos com juros de 12,5% que rendem retorno de apenas 5%.
“A ideia de que essa destruição de capital pode ser justificada por escala não se sustenta para uma empresa que já opera 33 data centers e possui uma receita anualizada de US$ 4 bilhões”, escreveu Luria em relatório a investidores.
Futuro promissor ou bolha em formação?
O caso da CoreWeave representa um microcosmo do cenário atual da inteligência artificial: investimentos bilionários, promessas de crescimento exponencial, parcerias com gigantes e, ao mesmo tempo, incertezas quanto à sustentabilidade e rentabilidade de longo prazo.
A estratégia da empresa de apostar tudo no crescimento rápido, mesmo com prejuízos no curto prazo, ecoa a lógica das big techs em seus primeiros anos — como Amazon e Tesla —, mas também carrega o risco de ser mais uma vítima da supervalorização da IA caso a demanda arrefeça.
O mercado de infraestrutura de IA ainda está em estágio inicial, mas a disputa por dominância já começou. E a CoreWeave, com apoio de pesos-pesados como Nvidia e contratos robustos com a OpenAI, pretende ocupar um papel central nessa corrida.
*Com informações da CNBC
Siga o IT Forum no LinkedIn e fique por dentro de todas as notícias!