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Matthew Garst, vice-presidente sênior da Mendix Americas. Imagem: divulgação (Brasil)

Matthew Garst tem uma trajetória pouco convencional para um executivo de tecnologia. Começou na infantaria do Exército americano e, depois de deixar a carreira militar, encontrou-se trabalhando em uma pequena empresa de TI formada inteiramente por ex-militares. “Eu era o cara de vendas, o cara de marketing, e foi uma experiência absolutamente fabulosa”, recorda.

Dessa experiência inicial, que o obrigou a aprender fazendo, Garst construiu uma carreira que o levou a gerenciar contratos de centenas de milhões de dólares na IBM com o Departamento de Defesa americano. Hoje, como vice-presidente sênior da Mendix Americas, ele comanda as operações da plataforma de desenvolvimento low-code em todo o continente.

E é dessa posição que ele faz uma declaração que ressoa bem além dos corredores corporativos: o Brasil se consolidou como o segundo maior foco de investimento da empresa nas Américas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

“Por trás dos EUA, que é nosso maior mercado individual, o Brasil é minha segunda área de foco”, afirma Garst durante entrevista no evento Realize Live Americas*. “É onde nosso investimento estará, porque realmente vemos que os clientes estão nos abraçando.”

Leia também: Na indústria do futuro, o Brasil quer protagonismo: Vivix e Siemens destacam soluções no Realize Live 2025

A descoberta de um potencial inesperado

A chegada de Garst à Mendix tem contornos quase acidentais. Trabalhando como parceiro de negócios da IBM, ele estava satisfeito com sua posição quando um amigo lhe sugeriu conhecer a empresa. “Francamente, não tinha interesse em sair. Estava feliz onde estava”, conta. “Ele disse: ‘apenas dê uma olhada, é só isso que estou pedindo’.”

O que Garst descobriu mudou sua perspectiva sobre desenvolvimento de software. Sua empresa anterior havia acabado de vender para uma grande rede varejista americana uma solução que exigia seis produtos diferentes e milhões de dólares em software e serviços para integração. “Quando olhei para a Mendix, pensei: ‘Meu Deus, a Mendix poderia fazer tudo que acabáramos de vender. Poderíamos ter feito com um produto e por cerca de um sexto do preço’.”

Essa revelação o levou a uma conclusão: “Eu preciso fazer parte disso. Porque isso é algo que os clientes, que todo cliente, não importa de que indústria, precisa.”

Uma comunidade que floresceu

No Brasil, Garst testemunhou uma evolução que espelha sua própria jornada de descoberta. Nos primeiros eventos da Mendix no País, a empresa tinha poucos clientes e pouco reconhecimento. “Era um evento muito menor, tínhamos muito menos clientes para subir lá e contar a história”, lembra.

A transformação se tornou evidente no evento de outubro passado. “Não eram nem os clientes repetidos. Tínhamos um conjunto completamente novo de clientes novos em folha”, relata Garst.

Mas o que mais impressionou Garst foi o que acontecia nos intervalos do evento. “Os clientes conversando com outros clientes, isso começou a mostrar que a maior mudança era que agora temos uma comunidade”, diz. “Passou de estarmos apenas tentando construir algo para, em outubro, termos realmente construído. Agora existe uma comunidade.”

Inteligência artificial que muda o jogo

A Mendix lançou recentemente a versão 11, que inclui M.AI.A (Mendix AI Assist), seu assistente de IA integrado. Para Garst, a ferramenta representa uma abordagem única no mercado. “Existem muitas tecnologias no mercado hoje que são ferramentas de IA. Elas ajudam a gerar código. Mas escrever código é apenas parte do ciclo de vida do desenvolvimento de software”, explica.

M.AI.A, segundo o executivo, acompanha todo o processo: desde a ideação e criação de user stories até o desenvolvimento, testes, deployment e gerenciamento das aplicações. Uma funcionalidade que exemplifica essa abordagem é a capacidade de criar workflows automaticamente a partir de desenhos em quadro branco.

“Imagine poder ir até um quadro branco com o dono do negócio e desenhar o layout de um workflow”, descreve Garst. “Por causa da M.AI.A, tiro uma foto, faço upload no Mendix, e M.AI.A cria automaticamente um workflow para você. Não faz nada além de desenhar, tirar foto, fazer upload.”

Um caso apresentado pela consultoria Deloitte ilustra o potencial dessa abordagem: a General Atomics, fabricante de drones militares, desenvolveu uma aplicação baseada em IA para o departamento financeiro que gerou retorno sobre investimento em apenas três dias e meio após entrar em produção.

Uma conversa que mudou de audiência

Garst observa uma transformação fundamental no perfil dos profissionais que tomam decisões sobre tecnologia. “Antes, a maioria de nossas conversas eram com pessoal de TI responsável pelo desenvolvimento de aplicações”, conta. “Mas agora, com IA, que é tudo sobre seus dados, essa não é apenas uma decisão de TI. É uma decisão de negócio.”

O executivo estima que cerca de 75% das conversas da empresa hoje são com executivos que “nunca programaram nada em suas vidas”. “Agora temos que mudar de ‘como você constrói’ para ‘que resultados você está tentando alcançar’”, diz.

Essa mudança reflete uma urgência crescente nos negócios. “Eles querem saber: posso me mover 10 vezes mais rápido? Posso tirar 100 milhões de dólares de custo do meu negócio? Posso aumentar minha retenção de clientes em 99%?”, exemplifica Garst. “Essa é a linguagem. Então nós, da tecnologia, agora temos que falar uma nova linguagem.”

O futuro começa na educação

Sobre as competências necessárias para navegar neste novo cenário, Garst defende que a educação em IA deve começar cedo. Ele usa um exemplo pessoal: “Mesmo minha filha, que está na faculdade e quer ser médica, eu disse: você precisa fazer um curso, porque precisa começar a entender como a IA funciona, porque vai impactar tudo.”

A Mendix já mantém discussões com organizações educacionais no Brasil, para desenvolver programas de capacitação. “Precisa ser ensinado porque é diferente”, argumenta. “Aproveitar a IA como parte desse processo é uma forma diferente de fazer.”

Para Garst, que testemunhou décadas de transformações no setor de tecnologia, o momento atual representa algo inédito. “Esta é a mudança mais rápida que já vi, e não vai desacelerar”, conclui o executivo que um dia trocou o uniforme militar pelo mundo da tecnologia, descobrindo que algumas batalhas mais importantes acontecem em salas de reunião e eventos de inovação.

*A jornalista viajou a Detroit a convite da Siemens

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