Gisselle Ruiz Lanza não planejava trabalhar com tecnologia. Nascida na Espanha, criada na Argentina, e filha mais velha de uma família de empreendedores, estudou engenharia industrial e começou sua carreira estagiando em uma empresa de embalagens. Ao se aproximar da área de tecnologia de produtos, no entanto, seu destino mudou. A empresa em que trabalhava foi adquirida pela Intel e, sem saber, ela havia dado o primeiro passo para uma trajetória que a levaria a ser a primeira mulher a ocupar posições estratégicas na gigante da tecnologia na América Latina.
Hoje, como vice-presidente da Intel na região, Gisselle reflete sobre essa jornada de mais de duas décadas, repleta de desafios, mudanças de país e aprendizados. Mas mais do que suas conquistas individuais, ela se orgulha do impacto que gerou na carreira de outras mulheres e da trilha que abriu para que elas possam seguir.
Gisselle Ruiz Lanza, a maratonista da tecnologia
Para Giselle, nenhum caminho é linear. “O mais importante não é a linha de chegada, mas a jornada até lá”, reflete. A metáfora que ela usa para falar da sua trajetória não poderia ser mais precisa: ela é maratonista. Inclusive, foi uma das poucas brasileiras na Maratona Para Todos, que aconteceu pela primeira vez na Olimpíada de Paris em 2024.
Assim como em uma corrida de longa distância, sua carreira foi marcada por altos e baixos, momentos de exaustão e superação. E essa jornada começou com uma grande mudança. Depois de um período empreendendo no México, Gisselle decidiu voltar para a tecnologia e retornar à Intel.
O plano inicial era permanecer no Brasil por dois ou três anos, mas o País apareceu no seu horizonte como uma oportunidade única. Em 2004, em meio ao crescimento econômico do País e à expansão da Intel, ela se mudou para cá e, pouco tempo depois, estava completamente apaixonada pela cultura, pelas pessoas e pelo dinamismo do mercado.
“Queria uma experiência internacional e o Brasil me conquistou. Estou aqui há 20 anos”, conta. Além do crescimento profissional, foi no Brasil que Gisselle formou sua família, teve filhos e consolidou sua trajetória na Intel.
Quebrando barreiras
Em um setor tradicionalmente masculino, Gisselle sempre soube que precisava se posicionar. Mas sua ascensão na Intel não foi motivada por um desejo de alcançar cargos de liderança, e sim pelo impacto que poderia gerar. “Nunca persegui títulos. Sempre foi sobre impacto, sobre abrir caminhos para as pessoas ao meu redor.”
E ela abriu. Gisselle foi a primeira mulher a ocupar a posição de gerente-geral da Intel Brasil. Depois, tornou-se a primeira mulher a liderar a operação da empresa na América Latina. E, mais recentemente, assumiu o cargo de vice-presidente da companhia na região, novamente, a primeira mulher a chegar lá.
“A importância de ser protagonista da sua própria carreira é fundamental. Você precisa ser o motorista do seu carro, responsável pelos seus caminhos e escolhas. E o sucesso não é um destino, mas um alinhamento com seus sonhos, seus valores e o que realmente importa para você”, afirma.
Essa jornada, contudo, não foi sem obstáculos. Gisselle lembra que, ao voltar da segunda licença-maternidade, aos 40 anos, enfrentou inseguranças e dúvidas. “Eu tinha muita responsabilidade e, ao mesmo tempo, muitas incertezas. Mas tive pessoas ao meu redor que acreditavam em mim mais do que eu mesma acreditava.”
Ela cita Carol Prado, diretora de Comunicações da Intel Latam, como uma das suas mentoras na Intel, que a ajudou a vencer a timidez e a enfrentar os desafios de um cargo que exigia alta exposição. “Não gosto dos holofotes. Mas entendi que a posição que ocupo demanda isso e era uma oportunidade de desenvolver uma nova competência. Aceitei o desafio.”
Mentorar ou contribuir de alguma forma com outras mulheres é, inclusive, uma prática da executiva. “O que parece um pequeno gesto pode ter um impacto gigante. Criar um ambiente positivo para quem vem depois de nós é o verdadeiro legado.”
Diversidade e a necessidade de continuar avançando
Ao longo dos últimos anos, o debate sobre diversidade e inclusão ganhou força nas grandes empresas – mas, mais recentemente o tema foi colocado à prova e essa conquista não está garantida. “Nos últimos cinco anos, criamos um movimento. Não foi só um momentota”, lembra.
Para ela, a diversidade não pode ser apenas uma pauta corporativa, mas um compromisso contínuo com o impacto na sociedade. E esse compromisso precisa ser defendido ativamente. “Acredito que muitos líderes vão continuar fazendo o certo, independentemente das circunstâncias. Mas estamos em um momento de alerta.”
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