Nos corredores do Fortinet Xperts Summit Americas International 2025*, Alexandre Bonatti, diretor de Engenharia de Soluções para a Fortinet no Brasil, fala com a urgência de quem enxerga o setor de segurança cibernética como parte essencial da engrenagem econômica. “A maturidade do mercado define o nível de ameaça”, afirma, enquanto tenta organizar os fios da narrativa que conecta o Brasil a um mundo cada vez mais vulnerável a ataques digitais.
A lógica é simples: quanto mais desenvolvido o ecossistema digital de um país ou setor, menor a probabilidade de sofrer ameaças. Não que o risco desapareça, mas os alvos tendem a se concentrar onde o lucro é maior e o esforço, menor. No mercado financeiro, por exemplo, regulamentações específicas e décadas de investimentos em cibersegurança elevaram a maturidade do setor. “Falamos em segurança no mercado financeiro há mais de 20 anos. Já na área de saúde, esse debate começou a ganhar força apenas após a pandemia”, explica Bonatti.
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Pandemia como acelerador
Se a transformação digital já estava em curso, a pandemia de COVID-19 foi o catalisador que colocou empresas em marcha forçada. “Negócios que funcionavam apenas no mundo físico tiveram que migrar para o digital em questão de meses”, relembra Bonatti. O Brasil, que já carregava desafios estruturais, viu um salto no uso de tecnologias digitais, acompanhado por um aumento proporcional nos riscos cibernéticos.
A chegada da inteligência artificial ao centro das operações foi outro divisor de águas. “Não estamos falando de algo novo. Usamos IA na segurança cibernética há mais de 20 anos para analisar dados massivos e identificar padrões de ataques. O que mudou foi que a IA saiu dos bastidores e foi para a linha de frente, interagindo com o consumidor final”, explica. Essa mudança deu visibilidade ao tema e pressionou empresas a adotarem soluções mais avançadas.
Democratização e lacunas
A democratização da tecnologia, paradoxalmente, intensificou os desafios. Com mais dispositivos conectados e dados circulando, o potencial de ataques cresceu exponencialmente. Bonatti observa que, embora os investimentos em cibersegurança tenham aumentado, a formação de talentos especializados ainda é insuficiente. “Hoje, as empresas preferem contratar profissionais seniores, mas a urgência impede a formação de novos talentos. É um problema sistêmico.”
Bonatti vê a inteligência artificial como uma oportunidade para reverter esse cenário. “Quando alunos perguntam se a IA vai substituir o trabalho humano, eu respondo que, na verdade, ela abre novas possibilidades. Automatizamos tarefas repetitivas, liberando tempo para que os profissionais se concentrem em estratégias mais complexas.”
De suporte a prioridade estratégica
O papel da segurança cibernética dentro das empresas também mudou. Antes relegada a um setor operacional, muitas vezes escondido dentro da área de TI, agora é pauta de conselhos administrativos. “As empresas começaram a entender que cibersegurança é uma diretriz estratégica. Não é mais sobre proteger sistemas, mas sobre garantir a continuidade do negócio e mitigar riscos financeiros.”
A comparação com práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) ilustra essa evolução. “Assim como as empresas se comprometeram com ESG para atrair investidores, o mesmo acontece com cibersegurança. Hoje, é um dos pilares para construir confiança no mercado.”
Brasil no contexto global
Embora o Brasil tenha avançado, Bonatti reconhece que o país ainda caminha atrás de mercados mais maduros, como Europa e Estados Unidos. “Não é que investimos menos, mas começamos a nos preocupar mais tarde. Alguns mercados emergentes estão fazendo esses investimentos agora.”
Entre os desafios, ele destaca a necessidade de traduzir riscos tecnológicos em riscos de negócio. “O aumento nos ataques não é suficiente para convencer os executivos a investir. É preciso mostrar como esses riscos afetam diretamente os resultados financeiros.”
Quando perguntado sobre qual solução da Fortinet escolheria, caso pudesse optar por apenas uma, Bonatti é enfático: “Rápida resposta a incidentes. Não importa quão robusta seja a sua defesa, ataques vão acontecer. O diferencial está na capacidade de identificá-los e reagir em tempo hábil para minimizar os danos.”
Para Bonatti, garantir uma resposta eficiente é também uma forma de evitar os cenários que mais o preocupam. Ele reflete sobre a evolução do impacto dos incidentes cibernéticos: “No passado, se um firewall parava, o impacto era limitado: um usuário ficava sem acesso à internet, mas as operações da empresa seguiam funcionando. Hoje, a situação é muito diferente. Um firewall parado pode impactar um hospital inteiro – exames e consultas deixam de acontecer, afetando diretamente a vida das pessoas.”
Essa preocupação se estende ao setor financeiro, onde interrupções podem paralisar bancos, atrasar pagamentos e gerar impactos sociais significativos. Ele ressalta que a segurança cibernética agora é parte do core business das empresas, exigindo evolução constante para atender as demandas de maneira ágil e eficaz. “Historicamente, na área de segurança cibernética, dependíamos de soluções e suporte importados, com pouca mão de obra qualificada localmente. Isso significava que, em um momento de crise, muitas vezes não tínhamos profissionais presentes no Brasil para atuar diretamente no problema.”
Por isso, Bonatti enfatiza a importância de consolidar a presença local da Fortinet e de outras empresas do setor. “Nosso objetivo é garantir que, no momento de dificuldade – que inevitavelmente vai acontecer –, os clientes recebam uma resposta rápida e eficaz. A segurança cibernética já é parte integral dos negócios, e precisamos estar preparados para enfrentar essas situações de forma ágil. Esse é o grande desafio que tira meu sono.”
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