Se existem duas áreas que combinam em necessidade de precisão são as de Tecnologia e de Direito. Uma programação errada e a operação de uma empresa pode parar. Assim como um processo ou julgamento mal feito pode mudar milhares de vidas. Diariamente, esses dois universos se encontram em uma das legaltechs mais conhecidas do Brasil, o JusBrasil, plataforma de inteligência jurídica.
Apesar utilizada por não-praticantes do Direito, atualmente, a empresa tem focado em seu público mais profissional, principalmente aqueles que atuam em pequenos e médios escritórios. O lançamento do assistente jurídico baseado em inteligência artificial generativa (IA), o Jus IA, é a prova disso. A ferramenta foi construída para auxiliar advogados na busca por outros processos e petições, na criação de documentos e na verificação de legitimidade de citações jurídicas.
De acordo com Marina Marinho, legal expert manager à frente do projeto, os pequenos escritórios foram a motivação para realizar o trabalho. “Esses escritórios muitas vezes não tem verba pra ficar fazendo pesquisa e atendem uma grande parte da população. A ideia é agilizar o trabalho deles com segurança, principalmente para mulheres”, contou em entrevista ao IT Forum.
Recentemente uma pesquisa do JusBrasil em parceria com o ITS Rio, a OAB SP e a Trybe revelou que 43% dos profissionais que adotam IA generativa no Direito são mulheres. Advogada de formação, Marina entende essa necessidade na pele.
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Antes de entrar para a legaltech, a profissional trabalhou nove anos com direito tributário e pesquisava políticas públicas para redução de desigualdades. E foi justamente a IA que a auxiliou no processo de unir Justiça e Tecnologia. “Nós mulheres, por termos que nos provar constantemente, buscamos ferramentas que nos ajudem a aprofundar de forma prática e a IA é um desses mecanismos.”
Um outro aspecto apontado pela gerente é o fato de que muitas vezes, as mulheres gerenciam muitos assuntos diferentes ao longo do dia, criando demanda grande por otimização. O desafio dessa vez estava em criar algo que trouxesse essa eficiência, mas com qualidade. Para isso, o time de Marina, composto inclusive por uma maioria de mulheres, mergulhou em uma base de dados de mais de 1,2 bilhões de documentos para garantir a captura dos diferentes termos jurídicos e as nuances de cada contexto.
O Jus IA foi desenvolvido com IA, mas em um processo rigoroso e constante de revisão humana contínua (Human-in-the-loop, HITL). “Essa abordagem híbrida é essencial para garantir respostas juridicamente precisas e adaptadas ao contexto”, afirma Marinho.
A advogada também ressalta que a plataforma não utiliza dados de usuários para realizar o treinamento de seus LLMs e que, mesmo antes da IA generativa, a empresa já utilizava tecnologias de anonimização em suas operações.
A ferramenta também precisava ser treinada para entender como os advogados fazem pesquisa, por isso, em parceria com a Matriarca IA, o JusBrasil utilizou uma combinação de modelos de inteligência artificial de propósito geral e o modelo Sabiá, da parceira. “Era importante para nós termos pipelines que mimificassem os processos de pesquisa do Direito, por isso adotamos uma arquitetura baseada em orquestração de LLMs, na qual diferentes modelos são acionados conforme a natureza da tarefa.”
Apesar do projeto já estar no mundo, ele está longe de acabar. Se existe mais uma similaridade entre o Direito e a Tecnologia é a produção de novos materiais. “Existem sempre novas leis e processos surgindo e claro, a IA com a qual começamos não é mais a mesma que temos agora. Então vamos continuar trenando os nossos modelos e adaptar a solução para as novas tecnologias que surgem”, finaliza a legal expert.
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