Por trás de uma estratégia robusta ou de uma apresentação para investidores, muitas vezes há um alarme de tempo de tela, um pedido de ajuda com dever de casa ou uma conversa difícil sobre os perigos do mundo digital. Ser mãe nunca foi simples. Ser mãe de adolescente na era da hiperconectividade, menos ainda.
E se essa mãe ainda lidera operações bilionárias ou comanda a tecnologia de uma gigante global, o equilíbrio entre o profissional e o pessoal exige mais do que organização: demanda consciência, parceria e, sobretudo, presença, mesmo quando remota.
Recentemente, a série Adolescência, que mergulha nas complexidades da juventude hiperconectada, escancarou um retrato que muitas mães conhecem de perto. A ansiedade digital, a exposição precoce e o abismo geracional criado pelas telas se fazem presentes. Como superar?
“Tenho um menino de 18 anos e uma menina de 8. Ambos já nasceram cercados pela tecnologia, mas é com o mais velho que os dilemas aparecem com mais força”, conta Gisselle Ruiz Lanza, vice-presidente global de Vendas e Marketing da Intel e diretora geral da companhia na América Latina. “A tecnologia é facilitadora, mas também carrega riscos. O diálogo é o melhor caminho. Não é só sobre dizer, é sobre ser exemplo. Os filhos veem mais do que ouvem.”
Gisselle e o marido, também profissional de tecnologia, criaram juntos rotinas que evitam o uso do celular durante refeições ou encontros em família. “Não fazemos só por nós, mas para que nossos filhos entendam o valor da presença. Na adolescência, eles estão nas plataformas, nos jogos, em um universo que não enxergamos, mas que precisa ser discutido. Tenho conversas duras, sim, principalmente com o mais velho, sobre respeito, privacidade, o que escrever ou não na internet. É um trabalho coletivo, que envolve outras mães também.”
Tecnologia com limites e afeto
A CIO da Copa Energia, Claudia Marquesani, também enfrenta os reflexos da adolescência digital. Mãe de dois meninos, um de 23 anos e outro de 13, ela viveu duas experiências muito diferentes. “O mais velho era conectado, mas o mais novo nasceu já dentro do universo das telas. A pandemia intensificou isso. Hoje, o bullying, por exemplo, acontece em escala global. É difícil identificar os sinais, por isso, sempre me baseei em três pilares: exemplo, diálogo e literatura.”
Claudia conta que estudou profundamente o tema da educação digital e a tecnologia ajuda. Ela aplica em casa ferramentas para controle de tempo de tela, especialmente nos dias de semana. “Mas o controle não pode ser excessivo. Precisamos preparar nossos filhos para tomar boas decisões. Mostro, inclusive, o que acontece no cérebro com a dopamina liberada pelos estímulos digitais. Quando eles entendem o que acontece biologicamente, o argumento deixa de ser só ‘coisa de mãe’.”
Mães, líderes e aprendizes
Ambas as executivas compartilham a ideia de que o papel da mãe de adolescente na era digital é menos sobre impedir e mais sobre preparar. “É uma geração ansiosa, imediatista. Proibir pode até funcionar no curto prazo, mas ensinar a lidar, escolher, errar e corrigir é para a vida toda”, reflete Gisselle.
Para Claudia, a pandemia nos distanciou da convivência real, e uma das missões das mães hoje é resgatar a coletividade. “Na nossa casa, sempre chamamos a atenção para isso. Estamos juntos? Então estamos presentes. Sem telas. Sem dispersão. A inteligência artificial está aí, vai ocupar espaço no mercado de trabalho, e precisamos preparar nossos filhos para usá-la como extensão da capacidade humana não como distração.”
Ao serem questionadas sobre o que mais as surpreendeu como mães de adolescentes, Gisselle sorri: “Aprendi que meu trabalho como líder não me torna mais preparada para lidar com os dilemas da adolescência. Muito pelo contrário. Meus filhos me ensinaram sobre vulnerabilidade, escuta e humildade. Coisas que levo também para a sala de reunião.”
E se sua versão adolescente pudesse espiar o futuro? “A Gisselle de 15 anos não imaginava que seria mãe de dois incríveis, vivendo em um mundo tão digital, e ainda conseguindo manter uma carreira global. Mas o que mais me surpreende é que, mesmo nos dias mais difíceis, continuo buscando a mesma coisa: conexão”, finaliza.
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