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realize live, CEO global de Digital Industries Software da Siemens, Tony Hemmelgarn

Na abertura do maior evento da Siemens nas Américas*, o CEO global de Digital Industries Software, Tony Hemmelgarn, recorreu à filosofia grega para falar de software. Citou Heráclito, “Nenhum homem entra duas vezes no mesmo rio”, para descrever um mundo industrial em constante transformação. “A natureza do trabalho está mudando. E as ferramentas também”, afirmou. Diante de uma plateia com executivos de diversos países, Hemmelgarn defendeu o uso da complexidade como vantagem competitiva.

No centro da estratégia da Siemens está o Xcelerator, plataforma que combina gêmeo digital, inteligência artificial, computação de alto desempenho e aplicações low-code. “Não se trata apenas de acelerar processos, mas de garantir que as decisões, com toda essa complexidade, sejam feitas com confiança”, comentou Hemmelgarn ao detalhar como as soluções Xcelerator se conectam para fornecer visibilidade e previsibilidade às operações industriais.

Enquanto o discurso de abertura marcava o tom da conferência, empresas brasileiras começaram a ocupar um espaço cada vez mais relevante no cronograma de apresentações. A pernambucana Vivix, por exemplo, apresenta pela segunda vez consecutiva um case de inovação. Na edição anterior, a empresa já havia sido premiada por um projeto de controle de qualidade. Desta vez, segundo Aristóteles Terceiro Neto, gerente de Transformação Industrial na Vivix, a novidade foi o uso de inteligência artificial para monitorar a vida útil de um forno industrial avaliado em mais de R$ 400 milhões.

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Para viabilizar a iniciativa, a Vivix formou uma aliança de inovação em Pernambuco que envolve a equipe interna de manutenção, pesquisadores da Universidade de Pernambuco e provedores de tecnologia como AWS e Snowflake. Em cada forno, sensores capturam dados de temperatura, fluxo de gás e consumo de energia; esses dados são enviados para a nuvem da AWS e, em seguida, processados em pipelines no Snowflake. Finalmente, a Mendix, plataforma low-code adquirida pela Siemens, assume a orquestração, agregando informações em um único modelo de dados que integra leituras de IoT, registros históricos e parâmetros de projeto do forno.

A camada de inteligência artificial, disponível via JNI for Mendix (em fase beta), permite que operadores e engenheiros interajam em linguagem natural para receber diagnósticos preditivos. Em vez de depender apenas de análises manuais, eles podem consultar o sistema e obter informações sobre tendências de desempenho ou necessidades de manutenção. “Essa interação em linguagem natural facilita a tomada de decisão mesmo por quem não tem formação em ciência de dados”, explicou Aristóteles Terceiro Neto, destacando que o projeto se valeu de ciclos rápidos de validação para refinar algoritmos e alertas.

Tiago Farias, co-CEO da TrueChange, parceira da Siemens especializada em Mendix, avaliou o papel de sua equipe como catalisador do ecossistema. “Desde o levantamento de requisitos até a entrega do produto, conduzimos workshops com engenheiros de manutenção para mapear casos de uso prioritários. Em cada iteração, liberávamos protótipos para testes no próprio forno, ajustando parâmetros de alarme e refinando relatórios conforme o feedback da equipe de chão de fábrica”, afirmou. Ele ressaltou que essa abordagem ágil permitiu avançar rapidamente sem causar interrupções na produção.

Os primeiros meses de operação do sistema já mostraram que a Vivix consegue identificar anomalias térmicas antes que se tornem falhas críticas. Em uma das situações, um padrão fora do esperado foi detectado e a equipe de manutenção interveio preventivamente, evitando uma parada prolongada que poderia afetar a produtividade. Além disso, a otimização dos parâmetros térmicos tem contribuído para a redução do consumo de gás, efeito constatado em relatórios comparativos com períodos anteriores.

Aristóteles ressalta que o mais importante não são apenas ganhos financeiros, mas a segurança dos operadores. “Em uma indústria de vidro, onde as temperaturas podem superar 1 000 °C, antecipar falhas de refratário ou desequilíbrios de chama reduz riscos de incidentes e melhora as condições de trabalho”, afirmou.

Para a Vivix, o projeto também provocou mudança cultural. Tradicionalmente, decisões de manutenção eram tomadas apenas quando havia indícios claros de problema, por exemplo, queda de rendimento ou relatórios atrasados. Hoje, técnicos, engenheiros e gestores acompanham dashboards em tempo real e utilizam insights de IA para planejar intervenções de forma coordenada. “Isso aproxima o chão de fábrica da estratégia corporativa. Em vez de reagir a emergências, podemos projetar cenários, simular impactos de diferentes ajustes e alinhar o cronograma de manutenção com a programação de produção”, explica Aristóteles.

Tiago Farias acrescentou que boa governança foi requisito desde o início. “No Mendix, criamos logs de auditoria que registram todas as alterações de configuração e regras de cálculo, garantindo rastreabilidade para o time de compliance da Vivix e para eventuais auditorias externas. Além disso, adotamos pipelines automatizados de testes que asseguram a estabilidade das atualizações sem comprometer a produção”, explicou.

Ao falar sobre o futuro da solução, Neto adiantou que a Vivix pretende evoluir os modelos de IA para incorporar novos fatores, como dados meteorológicos e condições de resfriamento externo, buscando refinar ainda mais as previsões. Também já estão nos planos expandir o conceito de gêmeo digital para simular componentes específicos do forno em nuvem, permitindo validar ajustes de projeto sem interferir nos ativos reais.

Renata Sampaio, diretora de Vendas Indiretas da Siemens Digital Industries Software para a América do Sul, avaliou o impacto de ter um case brasileiro em um evento global. “Quando a Siemens apresenta casos de clientes, o discurso sai do campo corporativo. Em vez de só falar de funcionalidade, mostramos resultados concretos. Em 2024 trouxemos apenas dez pessoas da América do Sul; em 2025, já são mais de trinta, e sete cases brasileiros no palco internacional”, destacou.

Entre painéis sobre digital twin, simulação 3D e PLM com copilotos de IA, o Realize Live segue até quinta-feira, reunindo executivos de setores como automotivo, aeroespacial e bens de consumo. Em comum, a busca por transformar a complexidade digital em vantagem competitiva. E, nas entrelinhas, a percepção de que o Brasil deixou de ser apenas espectador do processo.

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