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O futuro da Inteligência Artificial e a necessidade da ética relacional para uma governança inclusiva

By 22 de janeiro de 2025No Comments

Imagem de uma mão estendida segurando uma representação digital de inteligência artificial (IA), com um rosto de malha 3D ao centro e ícones flutuantes ao redor. Os ícones simbolizam justiça, privacidade, proteção de dados, educação, governança e inovação tecnológica. A balança representa a conexão da IA com questões legais e éticas, enquanto outros ícones destacam suas aplicações práticas em diversos setores, marco regulatório

Estamos vivendo a era da datificação, em que todos os aspectos da vida social são transformados em dados. Esse processo, fundamental para o desenvolvimento da inteligência artificial (IA), nos promete um futuro onde decisões complexas podem ser automatizadas e otimizadas em uma escala sem precedentes. No entanto, isso frequentemente simplifica a complexidade da vida humana em métricas e números, ignorando as relações e os contextos que tornam cada indivíduo único. Quando esses dados são usados em sistemas de IA, eles podem acabar reforçando as mesmas desigualdades e exclusões que pretendiam resolver.

Os dados que alimentam esses sistemas muitas vezes refletem contextos históricos de desigualdade. Como Coté (2022) observa, ao moldar identidades e comportamentos humanos em padrões digitais, a datificação impõe limites às representações, limitando a diversidade de experiências humanas e, em muitos casos, perpetuando estereótipos. Isso pode resultar em decisões enviesadas, criando um ciclo de exclusão e discriminação. Esse desafio nos obriga a questionar a suposta neutralidade dos algoritmos e a refletir sobre como essas decisões automatizadas moldam a sociedade, frequentemente favorecendo certos grupos em detrimento de outros.

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Trazendo a governança para as mãos das comunidades

Pensando em uma governança que seja realmente inclusiva, Browne (2023) propõe a criação de “AI Public Body” — uma entidade pública que permite a participação de cidadãos comuns, especialmente daqueles mais afetados pelas tecnologias de IA, nas decisões sobre o uso dessas tecnologias. Inspirado em modelos de democracia deliberativa, esse corpo incluiria a voz de comunidades diversas, trazendo uma nova perspectiva para as decisões que, até hoje, são dominadas por especialistas técnicos.

Esse modelo representa uma mudança significativa na forma como entendemos a governança, enfatizando que a IA não deve ser apenas uma questão de precisão técnica, mas também de justiça e representatividade. A inclusão dessas vozes no processo de governança cria um espaço onde os efeitos sociais das tecnologias podem ser mais bem compreendidos e endereçados, resultando em uma governança que reflete a diversidade da sociedade.

A justiça algorítmica muitas vezes é tratada como uma questão de otimização matemática, ajustando dados e métricas para minimizar desigualdades estatísticas. No entanto, como Van Nuenen (2022) aponta, a justiça social na IA deve ir além dos ajustes técnicos, considerando as complexas desigualdades estruturais que esses dados representam. Em vez de se limitar a resultados estatísticos, a justiça social exige uma compreensão mais profunda do impacto das decisões tecnológicas na vida das pessoas.

No caso de algoritmos usados em concessão de crédito ou reconhecimento facial, é essencial entender que esses sistemas não operam em um vácuo: eles são parte de uma sociedade com uma longa história de desigualdade. Para que a IA seja realmente justa, ela deve ser projetada com o compromisso de mitigar essas desigualdades, considerando as realidades vividas por comunidades marginalizadas e integrando suas vozes no desenvolvimento e na aplicação dessas tecnologias.

Para uma IA mais humana e justa

A era da datificação trouxe grandes avanços tecnológicos, mas também nos desafia a refletir sobre o papel da IA em promover uma sociedade equitativa. Uma IA que adota a ética do cuidado e uma governança inclusiva oferece um modelo mais humano e justo, onde as tecnologias servem a todas as pessoas, e não apenas a interesses comerciais. Desenvolvê-la com esses valores em mente significa construir um futuro digital que respeite a diversidade e o bem-estar coletivo, promovendo uma sociedade mais justa e equitativa.

Esse caminho exige mudança de perspectiva, onde a datificação e a inteligência artificial se tornam ferramentas para fortalecer nossa responsabilidade mútua e promover a inclusão. Somente com a abordagem que valorize o cuidado, a inclusão e a justiça social podemos transformar a IA em uma força positiva, que reflete o melhor de nossa humanidade.

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