
O mercado de healthtechs no Brasil vive hoje um dos seus momentos mais vibrantes e de maior tração na América Latina. De acordo com o HealthTech Recap 2024, elaborado pelo Distrito em parceria com a Associação Brasileira de Startups de Saúde e HealthTechs (ABSS), o Brasil concentra 64,8% de todas as startups de saúde investidas na América Latina, somando 602 healthtechs ativas. Só em 2024, o setor movimentou R$ 799 milhões em investimentos. Esse movimento não representa uma moda passageira. Estamos falando de uma transformação estrutural na forma como a saúde é pensada, entregue e consumida no país.
Esse salto foi, em parte, acelerado pela pandemia de Covid-19, que funcionou como um divisor de águas para o setor. O que inicialmente parecia uma digitalização emergencial para responder às restrições sanitárias consolidou-se como uma mudança permanente no comportamento do consumidor, nos modelos de negócios e na própria lógica operacional dos serviços de saúde.
A partir daquele momento, ficou evidente que saúde é, antes de qualquer coisa, uma questão de dados, tecnologia e acessibilidade. E o Brasil está no centro desse movimento na região.
O avanço desse ecossistema é fruto de uma busca por eficiência operacional e, principalmente, uma resposta à mudança radical do comportamento do consumidor de serviços de saúde. A geração que se acostumou a resolver a vida pelo smartphone não aceita mais esperar semanas por uma consulta, enfrentar filas para realizar exames ou depender de interações burocráticas com operadoras e redes hospitalares.
Quando falamos sobre transformação digital na saúde, não se trata apenas de colocar uma interface bonita em cima de processos antigos. O que está acontecendo é uma reinvenção dos próprios fundamentos do setor, capaz de ampliar o acesso a serviços médicos em regiões remotas, democratizar informações clínicas, acelerar diagnósticos e criar modelos de negócio centrados em prevenção, bem-estar e gestão proativa da saúde.
Empresas que apostaram cedo nessa transformação hoje colhem resultados expressivos. As rodadas de investimento recentes são prova disso: a Amigo, que desenvolve soluções de gestão e prontuário eletrônico, captou uma Série B de 33 milhões de dólares. A Mevo, na mesma categoria, levantou 20 milhões. A Beep, que atua em serviços de diagnóstico, chegou a uma Série D de 17 milhões. E, não por acaso, startups com foco em inteligência de dados, como a Eden, também atraem cifras relevantes – foram 10 milhões de dólares em sua última rodada.
Dados, IA e hiper conveniência: o que a BoxFarma nos ensina sobre o futuro da saúde
Números como esses refletem um consenso cada vez mais sólido de que a medicina do futuro será digital, personalizada e preditiva. E no que tange o último ponto, a diversificação dos modelos e serviços nas healthtechs tem, na inteligência artificial, uma das suas principais forças propulsoras, e já faz parte do dia a dia de dezenas de healthtechs brasileiras. O uso de IA no setor saltou de 14% para 20% em apenas dois anos, com 70 novas startups surgindo na América Latina focadas exclusivamente em aplicações de IA para a saúde. Isso inclui desde algoritmos para detecção precoce de câncer, como faz a Huna AI, até plataformas de análise rápida de exames cardíacos, como a Neomed.
E há um dado ainda mais relevante por trás desse movimento. O avanço da biotecnologia, da genômica e das plataformas de dados preditivos é uma oportunidade econômica e social. Se bem conduzida, pode resolver gargalos históricos do sistema de saúde brasileiro, além de posicionar o país como um polo global de inovação na área.
É nesse ambiente que surgem modelos de negócio verdadeiramente disruptivos, protagonistas na construção de uma nova lógica para o setor. Um exemplo claro — e que vale acompanhar de perto! — é o da BoxFarma, startup que vem quebrando a lógica tradicional do varejo farmacêutico.
O modelo é uma farma phygital inteligente, que combina três tendências poderosas: os honest markets (mini-mercados autônomos), a lógica WhatsApp-first, e o uso intensivo de IA para automação e personalização da jornada. Na prática, isso significa transformar a farmácia em um serviço de proximidade, invisível e 100% integrado ao cotidiano dos clientes.
A BoxFarma instala armários inteligentes dentro de condomínios residenciais, nos quais os clientes podem retirar medicamentos 24/7, sem interação humana. Todo o processo, da compra de remédios, incluindo manipulados, à assinatura de medicamentos de uso recorrente, passando por agendamento de consultas e suporte personalizado, acontece via WhatsApp, auxiliado por uma camada de IA que torna a experiência fluida, prática e conversacional.
Esse detalhe logístico é uma alteração total na forma de pensar e praticar modelos de expansão. Enquanto redes como a Drogaria Raia levaram 100 anos para atingir 3 mil lojas físicas, a BoxFarma projeta 3 mil pontos de venda em apenas 3 anos. Isso porque ela não está limitada pela lógica de loja, terreno, aluguel e equipe física. Ela escala como um negócio digital, mas com presença física distribuída e inteligente.
A BoxFarma, portanto, não concorre mais no jogo do preço ou da localização. Ela joga no tabuleiro da conveniência total, da disponibilidade imediata e da experiência hiper personalizada. Dessa maneira, ela é capaz de competir no espaço mental que o consumidor contemporâneo construiu para ele mesmo, onde tempo, simplicidade e autonomia são mais valiosos do que qualquer desconto na prateleira ou nota fiscal.
As healthtechs estão fazendo pela saúde o que Nubank fez pelos bancos e o que iFood fez pelos restaurantes. E já temos provas suficientes de que quem ignorou a chegada de iniciativas como essas pagou caro para aprender. A diferença é que, ao tratarmos de medicina, o impacto está atrelado à própria qualidade de vida da população.
O futuro da saúde no Brasil será definido por três forças complementares: a consolidação de plataformas digitais robustas, a integração de dados entre sistemas públicos e privados, e a adoção massiva de inteligência artificial e biotecnologia.
Se acertarmos essa equação — e aqui é preciso incluir também uma regulação moderna, aliada a políticas públicas que garantam acesso e equidade —, o Brasil tem tudo para deixar de ser um país que apenas consome tecnologia de saúde para se tornar um protagonista global nesse campo.
O impacto dessa transformação vai muito além de eficiência operacional ou de ganhos para as empresas que lideram esse movimento. Na prática, ela redefine o próprio conceito de cuidar da saúde no século XXI que, cada vez mais, se torna um bem de consumo, impulsionada pela indústria do wellness.
O debate sobre se a saúde será digital já ficou para trás, pois a transformação é um fato em curso. O jogo agora é sobre quem lidera esse movimento… e quem será atropelado por ele.
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