
Não é a toa que dizem que a realidade consegue ser melhor que qualquer ficção. Elizabeth Holmes, a infame fundadora e ex-CEO da Theranos, atualmente está na cadeia por fraude, mas seu marido, Billy Evans, agora está à frente de uma startup. E acredite: ela também é uma healthtech que quer inovar em diagnósticos por exames.
Segundo uma reportagem divulgada este fim de semana no New York Times, Billy está em busca de investidores para sua empresa, a Haemanthus, que segundo ele será o “futuro dos diagnósticos” e “uma abordagem radicalmente nova para testes clínicos”.
Pois é, você não está lendo errado: a proposta da Haemanthus não é muito diferente da promessa que Liz Holmes fez à frente da Theranos há mais de dez anos, quando “encantou” o mercado e investidores com sua tecnologia que dizia ser capaz de entregar diagnósticos a partir de poucas gotas de sangue, urina ou outros fluidos.
Inclusive, a Haemanthus também tem se baseia na premissa de uma máquina capaz de analisar amostras e entregar resultados de forma autônoma, tipo o que prometia a Edison da Theranos. Em documentos enviados a investidores, a Haemanthus afirma que sua máquina é capaz de analisar amostras tanto de sangue quanto de saliva.
Nos documentos, inclusive há uma foto do protótipo da máquina, que lembra um pouco a máquina da Theranos, que prometia ser portátil e prática para instalação em hospitais e clínicas. Entretanto, a máquina da Haemanthus não aparenta ter nenhuma chancela de órgãos reguladores de saúde nos EUA.
Planos e investimentos
A empresa de Billy planeja começar testando animais de estimação para doenças antes de avançar para humanos, segundo dois investidores que ouviram o pitch da empresa e falaram ao NYT sob condição de anonimato. Os materiais de marketing de Billy Evans, que preveem arrecadar mais de US$ 50 milhões, afirmam que o objetivo final é nada menos do que a “otimização da saúde humana”.
Segundo materiais da empresa e uma patente, o dispositivo Haemanthus usará laser para analisar amostras de sangue, saliva ou urina de animais de estimação em nível molecular. Em segundos, ele identificaria biomarcadores como glicose e hormônios, além de usar modelos de deep learning para detectar câncer e infecções.
A empresa afirma contar com cerca de duas dezenas de consultores, incluindo veterinários e especialistas em diagnóstico, embora não os tenha nomeado. Por enquanto, ela tem apenas uma patente (para uso veterinário), mas objetivo de longo prazo é criar uma versão wearable do dispositivo, do tamanho de um selo, para uso humano — algo que, segundo a empresa, exigirá três anos e US$ 70 milhões.
Quanto a aportes, a empresa afirma que já levantou US$ 3,5 milhões com amigos e familiares, e este ano começou a “passar o chapéu” para buscar novos investidores no Vale do Silício e Austin. Um dos nomes contatados foi Michael Dell, fundador da Dell, que não quis se envolver na empreitada.
Muito perto da Theranos
Billy Evans, herdeiro de uma fortuna no setor hoteleiro nos EUA, conheceu a ex-CEO da Theranos quando ela já estava sob investigação federal. Os dois casaram e tiveram dois filhos – William e Invicta. Em 2022, Liz Holmes foi condenada a quatro anos de prisão, e cumpre pena em regime fechado.
A história de Elizabeth Holmes e da Theranos já virou uma lenda no cenário de startups e do Vale do Silício, tanto que virou tema de uma série de TV (The Dropout). Fundada em 2003, a Theranos atraiu investidores com a promessa de mudar o cenário de exames laboratoriais, entregando diagnósticos a partir de poucas gotas de sangue, urina ou outros fluidos.
A empresa chegou a ser avaliada em US$ 9 bilhões após receber mais de US$ 700 milhões em investimentos – com direito a investidores de alto calibre como Rupert Murdoch e a família controladora da Walmart – e Holmes se tornou a bilionária mais jovem do mundo, com uma fortuna de US$ 4,5 bilhões, de acordo com a revista Forbes em 2014.
Entretanto, em 2015 a fachada da companhia começou a cair por terra, quando o Wall Street Journal viu falhas graves no Edison, a tal máquina milagrosa capaz de fazer centenas de exames laboratoriais em poucas horas. Em suma: a máquina basicamente não funcionava, e a companhia mascarava esse “desastre” fazendo as análises do mesmo jeito que todos as outras empresas: no laboratório, com mão de obra humana.
Além de diversos outras práticas fradulentas realizadas para manter a boa imagem da companhia – o famoso “fake it until you make it”, até a qualidade dos exames também foi colocada à prova, depois de a startup afirmar ter realizado mais de 3,5 milhões de testes. Segundo relatos, muitos resultados foram imprecisos, dada a decisão da Theranos de sacrificar precisão em favor de rapidez.
Incapaz de se defender frentes às acusações, a Theranos simplesmente derreteu no mercado, com seu valor despencando e culminando na acusação de Holmes e seu namorado na época, o COO Sunny Balwani, em 12 acusações de fraude.
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