Nos próximos meses, o Brasil será campo de teste para um dos movimentos mais ousados do comércio digital: a consolidação do TikTok Shop. A proposta da gigante chinesa é clara: transformar entretenimento em consumo de forma quase instantânea, integrando vídeos curtos, influência e vendas em um só fluxo. Mas, diante do entusiasmo, vale perguntar: isso representa o futuro do e-commerce brasileiro ou mais uma aposta no imediatismo?
Leia também: Confiança excessiva em chatbots com IA transformou ferramentas em ‘caixas pretas’
O fascínio do consumo impulsivo
O TikTok Shop promete o sonho do e-commerce “fricção zero”. O produto aparece no vídeo, o link de compra surge na tela e, em segundos, o consumidor pode concluir a transação. A China já mostrou que funciona: só em 2023, o TikTok Shop movimentou US$ 20 bilhões em vendas globais, segundo a Bloomberg Linea Brasil. No Brasil, onde mais de 70 milhões de pessoas usam o TikTok, a expectativa é alta.
Mas o que parece inovador esconde riscos que já conhecemos bem.
O alerta que vem da Temu
O crescimento meteórico da Temu, que alcançou a terceira posição em tráfego no Brasil, mostrou que acessos não significam sustentabilidade. Segundo a Conversion, a Temu chegou ao topo puxada por preço e curiosidade. Mas o modelo crossborder da empresa, baseado em importações diretas, sofreu um baque com a “taxa das blusinhas”: o volume de compras caiu 40% logo no primeiro mês da nova tributação, segundo pesquisa divulgada pelo Valor Econômico. Em janeiro de 2025, as remessas internacionais despencaram 27%, de acordo com a Receita Federal.
No artigo “Temu é tráfego. O mercado brasileiro precisa de faturamento”, reforço que o Brasil precisa de plataformas que criem valor, e não apenas cliques. Isso também se aplica ao TikTok Shop.
Criadores vendem, mas vendem o quê?
A maior força do TikTok Shop está nos influenciadores, que não são vendedores tradicionais. A dinâmica é emocional, impulsiva, espontânea — mas será que isso basta para sustentar um ecossistema de e-commerce saudável no país?
Se o modelo seguir baseado apenas em produtos importados de baixo valor, sem estrutura física no Brasil, ele tende a repetir os mesmos problemas da Temu: pouco retorno para a indústria nacional, evasão tributária, e um efeito predatório no pequeno e médio varejo.
Qual e-commerce queremos?
É preciso pensar o TikTok Shop não como inimigo ou modismo, mas como alerta. O consumidor brasileiro está cada vez mais conectado e influenciado por plataformas digitais. Mas o e-commerce que queremos — e precisamos — é aquele que fomenta sellers locais, gera emprego, reinveste no país e sobrevive às mudanças regulatórias.
Empresas que atuam com estruturação de marketplaces para marcas brasileiras, mostram que há outro caminho possível: menos dependente do hype, mais conectado à realidade do varejo nacional.
Entre o clique e o compromisso
Transformar um vídeo em venda é um feito tecnológico. Mas transformar essa venda em valor duradouro para o ecossistema brasileiro, esse sim é o verdadeiro desafio.
Se o TikTok Shop quiser ser mais do que um experimento momentâneo, terá que entender que o Brasil não precisa apenas de conversão — precisa de permanência.
Siga o IT Forum no LinkedIn e fique por dentro de todas as notícias!