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Duas mãos robóticas, uma à esquerda e outra à direita, se aproximam de um globo terrestre digital flutuante no centro da imagem, tocando-o levemente com os dedos indicadores, criando um brilho de luz nos pontos de contato. O globo mostra principalmente os continentes da África, América do Sul e Europa, com cores vibrantes e efeitos de luz, como uma representação digital ou holográfica. O fundo é escuro com tons de azul e luzes difusas, transmitindo um ambiente futurista e tecnológico com conexões em rede ao estilo de inteligência artificial ou comunicação global.

Para uma tecnologia realmente ser adotada por empresas, ela precisa ter duas características: perenidade e padronização. As organizações não podem apostar alto em uma solução que corra o risco de deixar de existir em um ou dois anos – ou que se transforme tanto a ponto de ficar obsoleta rapidamente. Elas também não conseguem escalar o uso da tecnologia quando cada novo passo exige desenvolvimento sob medida. São justificativas que fizeram muitas empresas adiar a adoção de inteligência artificial de maneira massiva, por exemplo. Mas, em 2025, o cenário da IA começa a mudar justamente por conta de um elemento técnico de criação complexa, mas que tem como meta uma função trivial: os protocolos de agentes de IA. 

Nos últimos anos, vimos uma corrida frenética das grandes empresas de tecnologia para desenvolver grandes modelos de linguagem (LLM, na sigla em inglês), que caíram no gosto do consumidor final – hoje, 400 milhões de pessoas utilizam semanalmente o ChatGPT, assistente baseado nos modelos GPT da OpenAI. Em meio a essa adoção em massa, surgiram os agentes de IA. Diferentemente de modelos isolados, que geram texto ou respondem perguntas, essas soluções podem combinar a inteligência com a capacidade de ação, sendo capazes de acessar bancos de dados, interagir com softwares empresariais e até mesmo colaborar com outros agentes.

No entanto, apesar do potencial, nem os LLMs nem os agentes conseguiram ganhar espaço real em muitas organizações até agora. Há motivos para isso – o principal era a complexidade técnica envolvida em conectar a IA aos sistemas corporativos existentes. Até pouco tempo atrás, cada integração precisava ser feita sob medida, com muito desenvolvimento e dependência de times técnicos. Tal característica fez com que muitos projetos de adoção fossem vistos como demorados, caros ou pouco confiáveis para operações críticas.

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Mas agora há algo novo no horizonte: os protocolos para agentes de IA, que podem funcionar como o USB da inteligência artificial. Se, a partir dos anos 1990, o padrão USB permitiu que dispositivos variados de diversos fabricantes — de impressoras a teclados — funcionassem de maneira simples (ou “plug and play”, como se dizia na época) em qualquer computador, os novos protocolos criam uma camada de interoperabilidade entre sistemas empresariais e modelos de IA. É algo que pode mudar radicalmente o jogo daqui pra frente.

Um novo momento de padronização

Quem primeiro trouxe ao mercado um protocolo de padronização foi a Anthropic, dona da família de modelos de linguagem Claude. Lançado pela empresa no final de 2024, o Model Context Protocol (MCP) surgiu como a primeira grande tentativa de criar um padrão aberto para a comunicação entre agentes e sistemas computacionais, no resultado de um movimento coordenado – e, surpreendentemente, colaborativo – das próprias empresas de tecnologia. Havia quem duvidasse que o modelo seria adotado amplamente, mas a resposta não demorou: logo no início de 2025, a OpenAI passou a adotar o MCP em seu kit de desenvolvimento de agentes de IA (Agents SDK), e o Google fez o mesmo na sua ferramenta de construção de agentes (Agent Development Kit – ADK).

A gigante de buscas, por sua vez, também trouxe à baila outro protocolo valioso: o Agent2Agent (A2A), que busca organizar as comunicações entre essas tecnologias desenvolvidas por diferentes fornecedores ou variadas funções. Não é algo totalmente novo: projetos experimentais como o BabyAGI e o AutoGPT já trabalhavam nesse tipo de cooperação, embora sem ter um padrão claro. Já o A2A formaliza esse tipo de interação em um nível mais amplo, mudando o paradigma: agora, abre-se espaço para a criação de um ecossistema de agentes cooperativos funcionando de maneira fluida, sem gambiarras técnicas ou conexões rígidas entre sistemas.  E esse avanço ganhou ainda mais força com o anúncio, em maio de 2025, de uma parceria entre Microsoft e Google para colaborar no desenvolvimento do A2A. A parceria permitirá interoperabilidade entre agentes criados em plataformas das duas gigantes, e ainda, qualquer outra plataforma compatível com esse protocolo.

Para as organizações, é uma excelente notícia: o estabelecimento de padrões abertos permite que a tecnologia se desenvolva com mais fluidez. Vale citar como exemplo outro protocolo, o HTTP, que foi base para a Web deslanchar a partir do início dos anos 1990, gerando a revolução “pontocom”. O mesmo agora pode acontecer com a IA, saindo de um cenário de APIs não-compatíveis para um momento em que agentes e sistemas falam a mesma língua, sem correr o risco de uma Torre de Babel.

A interoperabilidade como acelerador de adoção

O uso de uma camada padronizada de comunicação, além de criar uma língua comum entre diferentes sistemas, também faz com que o esforço de desenvolvimento caia drasticamente e reduza a dependência de uma organização de um único fornecedor. O que isso significa na prática? Que uma empresa pode escolher um CRM de um vendor –  fornecedor de software, hardware ou serviços técnicos – e um ERP de outro, confiando que os agentes se conectem a ambos a partir dos protocolos existentes e extraindo o melhor resultado possível.

O impacto disso para as empresas vai muito além do aspecto técnico. O ROI (o popular Retorno sobre Investimento), que antes era uma incógnita, começa a ganhar forma. Em 2024, para automatizar um processo simples, como o cadastro de fornecedores, era necessário alocar equipes de desenvolvimento durante semanas. O custo era alto, e o retorno, incerto. Com os protocolos, porém, o mesmo processo pode ser automatizado em questão de horas ou dias.

Isso muda drasticamente a barreira de adoção: se antes fazer uma integração representava um esforço significativo de tempo e dinheiro, agora esse processo pode ser muito mais simples e acessível. É uma redução que faz surgir oportunidades que antes nem eram consideradas, justamente porque o custo não justificava o ganho. Ao reduzir drasticamente a barreira de entrada, os protocolos criam um “caminho das pedras” mais claro para os CIOs, que passam a ter mais confiança para apostar em IA.

A era dos agentes corporativos

Além de integrar sistemas, os protocolos pavimentam o caminho para algo ainda maior: a era dos “funcionários digitais”. Imagine uma empresa em que cada departamento tenha agentes especializados em suas áreas — jurídico, financeiro, marketing —, todos conversando entre si, coordenando tarefas e integrando dados em tempo real. E o mais interessante: desenvolvidos por diferentes fornecedores.

É um cenário que já está em construção. Protocolos como o A2A permitem que esses agentes se comuniquem de forma fluida, mesmo que tenham origens diferentes. E isso representa uma mudança de paradigma: o poder não está mais em desenvolver tudo dentro de casa, mas sim em escolher os melhores agentes do mercado e fazê-los trabalhar em conjunto. Nesse cenário, porém, os humanos passarão a trabalhar cada vez mais como gestores desses agentes, supervisionando  suas ações, auditando resultados e sendo acionados em momentos críticos ou sensíveis.

Outro grande obstáculo para a adoção massiva de IA nas empresas, as alucinações são comuns quando se utiliza um LLM de maneira isolada. No entanto, elas tendem a se tornar menos frequentes daqui para o futuro, especialmente com a adoção dos protocolos de agentes. Isso acontece porque os protocolos existentes hoje no mercado exigem metadados e validações — e quem fornece o agente pode implementar barreiras ou guard-rails que mitiguem os riscos antes que eles cheguem ao usuário final.

Há ainda outra vantagem: com a adoção dos protocolos, o trabalho de verificação da sua eficiência deixa de ser exclusivo da empresa cliente que implementa o recurso e passa a ser compartilhado com os fornecedores de software. Afinal de contas, se a prevenção às alucinações está disponível nos protocolos, cabe a quem desenvolve esses sistemas cuidar de sua melhor aplicação. Além disso, assim como um iniciante aprende com feedbacks, os agentes também evoluem com ciclos de correção e testes — inclusive testes automatizados, como já fazemos em software tradicional. Alucinação, nesse contexto, será um sinal de que o sistema ainda está em treinamento, incompleto para ser levado ao estágio de produção.

A hora é agora

Em meio a tanta transformação, há um chamado direto para os executivos: a hora de adotar IA é agora. Em pleno amadurecimento, a tecnologia está avançando rapidamente e tendo suas barreiras de entrada reduzidas. Com a popularização e evolução dos protocolos, os custos devem cair, o ROI vai ficar mais claro e os fornecedores de softwares corporativos precisarão caminhar para um modelo mais aberto e interoperável.

Para CIOs e CTOs, o recado é ainda mais claro: é preciso olhar com atenção para os stacks de tecnologia dos seus fornecedores. É importante se certificar de que os sistemas utilizados hoje estejam mirando na compatibilidade com protocolos de IA, como MCP e A2A – e em caso negativo, é importante prestar atenção ao risco de lock-in. Acima de tudo, é importante priorizar casos de uso onde o “mato está alto”, onde o ganho com automação é óbvio.

Quem viveu a informática dos anos 1990 talvez lembre como era complicado configurar um simples mouse ou teclado. Hoje, com o USB tão disseminado, parece uma narrativa situada na pré-história. Da mesma forma, a era dos protocolos para IA vai mudar radicalmente como se trabalha todos os dias. Padrões que hoje parecem uma grande tecnicidade serão, em pouco tempo, os verdadeiros habilitadores da próxima revolução empresarial. E quem começar agora não só sairá na frente — mas estará preparado para um futuro que já começou.

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