A inteligência artificial pode estar em alta, mas para empresas que ainda operam com sistemas antigos, os benefícios continuam fora de alcance. Segundo Rui Botelho, presidente da SAP Brasil, a nuvem deixou de ser uma tendência e se tornou condição obrigatória para competir na nova economia digital.
“Sem a nuvem, não dá para falar em inteligência artificial de verdade. Ela é o pré-requisito. É na nuvem que as soluções são atualizadas, que os dados se integram e que os agentes inteligentes operam com segurança”, afirmou o presidente da SAP Brasil, em conversa com jornalistas durante o Sapphire 2025*.
A SAP anunciou que deixará de atualizar sistemas legados a partir de 2027 e encerrará totalmente o suporte a versões antigas até 2030. A decisão, segundo Botelho, tem como objetivo acelerar a transformação digital de empresas que ainda hesitam em abandonar modelos on-premise.
“É como tentar rodar um aplicativo de 2024 num celular de 2005. A conta não fecha”, disse. “A nuvem não é só armazenamento remoto. Ela é a base de toda a inteligência embarcada. É o que permite que usuários falem com o sistema em linguagem natural e obtenham respostas em tempo real, com base nos dados da própria empresa.”
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Dados prontos para IA
Essa mudança de paradigma se traduz em soluções como a assistente virtual Joule, que já opera em português e permite consultas diretas a dados corporativos. Botelho afirma que a arquitetura em nuvem permite orquestrar agentes que cruzam informações de áreas como finanças, RH, produção e logística, algo que seria inviável em estruturas tradicionais.
Com o lançamento do módulo Business Data Cloud, a SAP passou a oferecer um modelo de “dados harmonizados”, em que informações de diferentes origens são organizadas com contexto de negócio. Isso permite que a inteligência artificial atue de forma proativa, antecipando demandas e sugerindo ações.
“A tecnologia está pronta. O que falta agora é a estrutura adequada para rodar essa inteligência de forma eficaz. E essa estrutura só existe na nuvem”, reforçou o executivo.
Brasil avança, mas ainda precisa acelerar
Hoje, 63% dos clientes da SAP no Brasil já iniciaram sua jornada de migração. A expectativa da empresa é que esse número cresça rapidamente nos próximos dois anos, impulsionado pela pressão competitiva e pela necessidade de adotar soluções com IA integrada.
Adriana Aroulho, presidente da SAP para a América Latina e Caribe, avalia que o Brasil é um dos mercados mais avançados da região. “Já temos um nível de maturidade alto. O interesse é grande, mas muitas empresas ainda operam com projetos periféricos. Falta trazer a inteligência artificial para o centro do negócio.”
Ela destaca que a SAP já oferece todas as funcionalidades em português e com suporte local. “A Joule, por exemplo, entende comandos em português, acessa dados internos e executa tarefas com base em processos de negócio. Mas, para isso, o sistema precisa estar atualizado e conectado.”
Democratização e ganho de escala
Adriana também defende que a nuvem é o caminho para democratizar o acesso à tecnologia, especialmente para pequenas e médias empresas. “A nuvem permite começar pequeno, com soluções modulares, e ir crescendo conforme a necessidade. Para empresas que não têm grandes estruturas de TI, isso é vital.”
Rui concorda. “É aí que a produtividade ganha relevância. Uma empresa média pode aumentar em até 30% sua eficiência com IA. Mas, de novo: isso só é possível na nuvem.”
Governança e responsabilidade
A SAP afirma que a governança dos dados segue normas rigorosas, como a LGPD no Brasil e o GDPR na Europa. A empresa mantém um comitê de ética em inteligência artificial e adota princípios de IA responsável desde 2018.
“Os dados são da empresa. Ela define quem vê o quê. A SAP entrega a estrutura, mas é o cliente quem governa o uso”, diz Botelho.
Mesmo assim, Adriana reconhece que ainda há um caminho de aprendizado. “As empresas precisam de apoio para que a IA faça sentido real para o negócio. A tecnologia sozinha não resolve. É preciso mudar a cultura, rever processos e alinhar lideranças.”
Investimento e capacitação
Segundo os executivos, o Brasil é um dos centros estratégicos da SAP no mundo. Em São Leopoldo (RS), a empresa mantém um de seus 21 laboratórios globais de pesquisa e desenvolvimento, com mais de 3 mil funcionários. De lá saem soluções adaptadas à realidade latino-americana, incluindo ferramentas específicas para setores como agronegócio, manufatura e varejo.
Adriana encerrou a coletiva com um recado direto: “Sem nuvem, não tem IA. Sem IA, não tem competitividade. E sem competitividade, não tem futuro. Essa é a equação que está posta, e o Brasil tem tudo para sair na frente, desde que acelere.”
*A jornalista viajou a convite da empresa
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